Entrevistas

Home > Entrevistas > Secretário Maia Júnior: “O Ceará precisa de parceiros”

Secretário Maia Júnior: “O Ceará precisa de parceiros”

18:03 6 de dezembro de 2022 Por Daniel Oiticica

Maia Júnior, secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará

Uma boa conexão entre empresas, gestão pública, academia e sociedade civil organizada; um gigantesco processo de transição em energética já em um curso; um processo de internacionalização que se consolida com o lançamento do hub de hidrogênio verde; um complexo industrial e portuário com uma localização estratégica e uma administração de nível internacional. Mas também muitos desafios pela frente. É com uma visão de futuro e os pés no chão que Maia Júnior explica o Ceará de 2022, apontando os caminhos para um desenvolvimento sustentável e uma economia mais inclusiva.

Quais são as perspectivas do Ceará em termos de crescimento econômico para os próximos anos?
O Ceará tem dois enormes desafios. Apesar de um ciclo virtuoso de quase 36 anos de transformações, ainda não alcançamos a plenitude desse desafio. Um deles é ter um crescimento econômico mais robusto, bem acima dos níveis atuais. Crescer entre 2% e 3% do PIB, em média, ao longo desses últimos 36 anos, alternando períodos de baixa, e períodos não superiores a esta média, não levou o Ceará a superar os grandes desafios de ter uma economia sustentada, estável e de forte crescimento contínuo. Por outro lado, o combate à pobreza, a redução das desigualdades é outro desafio que a gente não chegou também a resolver em sua plenitude. Estes dois desafios têm que caminhar juntos, porque é difícil reduzir a pobreza sem capacidade de investimento. O Ceará, mesmo com a solidez fiscal que alcançou e mesmo sendo nos últimos sete anos o principal Estado investidor de recursos públicos proporcional a sua receita, ainda tem um nível de investimento muito baixo para superar essas desigualdades e, consequentemente, oferecer a sua população uma vida digna. A nossa economia se mostrou insuficiente para atender às principais demandas e às necessidades do povo cearense.

Em 2023 o Ceará terá um novo governo. Quais são as garantias para a continuidade das políticas de desenvolvimento não apenas no próximo período de governo, mas também nos outros que virão?
O Ceará tem um amadurecimento no seu desenvolvimento do ponto de vista da unidade política. Nos últimos 36 anos, seus governos procuraram aperfeiçoar o modelo que foi proposto e desenvolvido lá no final da década de 80. A continuidade e o aperfeiçoamento dessas políticas colocaram o Ceará em uma posição de destaque, mas ainda não em uma posição de relevância do ponto de vista econômico e social. O que se espera do próximo governo é que essa boa governança possa continuar, caracterizada por governos bem estruturados, que priorizam as políticas públicas para bem servir a população. Até porque o resultado da Eleição confirmou o desejo do povo cearense de uma continuidade com aperfeiçoamentos. Esta posição majoritária mostra que os cearenses estão orgulhosos, com a autoestima em alta com o Governo. Espero que o próximo governador entenda tudo isso, procure ampliar esse leque de pessoas satisfeitas, indo buscar o que está faltando para aqueles que ainda estão insatisfeitos, para que o Ceará, de forma unida, com boa governança e com boa governabilidade possa crescer nos próximos quatro anos. E tem um ponto muito favorável com a vitória do presidente Lula, correligionário político e do mesmo partido do governador eleito do Ceará e em quem estamos depositando grandes expectativas e esperanças de uma parceria que não aconteceu nos últimos seis anos no Ceará. Um bom governo no Ceará passa por uma boa parceria com o governo central.

Falando no Ceará 2050, plataforma de desenvolvimento do Ceará para as próximas três décadas, quais foram as bases de pensamento que nortearam a sua criação?
O Ceará 2050 tem o objetivo de, em primeiro lugar, encontrar um modelo de desenvolvimento econômico mais robusto, com musculatura para poder atender as superações necessárias para o Ceará. Outro objetivo é combater as desigualdades e pobreza, gerando inclusão e criação de oportunidades para um Estado mais equilibrado do ponto de vista social. Fazer crescer a renda e gerar emprego são desafios enormes. Gerar dignidade, moradia, condições de segurança alimentar e urbanização. Junto às moradias, ofertar escolas e saúde de qualidade, uma segurança que garanta os princípios constitucionais. Temos desafios também de ordem ambiental. Tornar o Ceará um Estado sustentável do ponto de vista ambiental, com uma boa governança. Estabelecer um nível mais qualificado de governança e outro desafio para que o Ceará continue sendo esse grande protagonista, não só das políticas públicas, mas da gestão pública. O Ceará 2050 foi elaborado em conjunto, não só com as instituições governamentais, estaduais, municipais, federais, mas também com a sociedade civil e uma ampla participação liderada pela Universidade Federal do Ceará (Uece), além de um processo isento de busca de um consenso para superar esses desafios do Ceará através da elaboração de uma estratégia para os próximos 30 anos. O Ceará 2050 teve estudos e um diagnóstico da história do Ceará muito bem elaborados. Não se faz um trabalho dessa magnitude sem, em primeiro lugar, diagnosticar o que somos, em que estado estamos, quais são os principais desafios, as principais prioridades para construir uma proposta estratégica mais próxima de ser realizada.

O processo de transição energética do Ceará já é uma realidade e promete ser um grande legado ambiental para as futuras gerações. Que impacto esta transição está provocando e ainda vai provocar na economia do Ceará como um todo?
Encontrei uma economia extremamente frágil, quando eu cheguei aqui para trabalhar nessa nova experiência que me foi concedida de liderar o projeto de desenvolvimento e a reestruturação do setor econômico dentro da estrutura governamental do Ceará, que, no caso, era estruturar e implantar a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho. Por isso, tínhamos que pensar dentro de uma visão mais orgânica e sistêmica. Montamos um sistema de desenvolvimento do Estado, além da estrutura que foi montada na Sedet e nas suas secretarias vinculadas, e em mais quatro secretarias importantes para o desenvolvimento econômico. A Secretaria de Turismo, que tem uma grande representatividade porque o turismo é uma das cadeias mais importantes da estrutura atual do desenvolvimento econômico do Estado. A Economia Criativa, na Secretaria de Cultura, e a Agricultura Familiar e a ação fundiária da Secretaria de Desenvolvimento Agrário. Além disso, a transversalidade e a inclusão dentro desse sistema da Secretaria de Ciências e Tecnologia, com uma base muito grande de conhecimento, de inovação, de novas tecnologias, de capital humano e com uma ligação mais forte com a Secretaria da Educação. Surgiu aí a governança ligada à educação e o desenvolvimento dentro do Estado, um programa que está em curso e avançando, já com um grande programa lançado, o C-Jovem, na área de TI, que é um gargalo de formação de mão de obra do Ceará. Já tínhamos uma base da qual o Ceará foi protagonista em projetos de energias renováveis no Brasil. Essa questão ambiental, tão debatida no mundo, abriu os olhos para mais um protagonismo que o Ceará precisava ter. Tivemos uma felicidade muito grande de propor a transição energética, juntando os esforços que tínhamos em energias renováveis com o hidrogênio, a montagem, em consequência disso, de um polo de produção maior de energia renováveis com a estruturação dos projetos e dos investidores de energia offshore e também da sua cadeia. O Brasil tem um potencial enorme com uma taxa de eficiência muito elevada na área de produção de energia, pelos ventos em terras continentais, no caso no mar. Hoje temos três novas cadeias na economia do Ceará: transição energética, logística e o hub de telecomunicações e TI, e está dando certo. O grande desafio do governo que chega, não só do governo local, mas dos outros governos estaduais, sobretudo dos da região Nordeste, serão as possibilidades que o Brasil tem de ser um dos grandes produtores de hidrogênio e energias renováveis do mundo. Garantir exatamente uma sustentação inclusive exportadora para outros países que precisam de energia, e de energia barata.

O Ceará foi convidado a participar da COP 27 realizada no Egito, o mais importante evento das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. O que representa para o Ceará esta presença na COP 27 e o que ela revela sobre a relevância que o Ceará dá ao desenvolvimento sustentável?
O Ceará se propôs a entrar nesse programa de descarbonização porque se comprometeu com a emissão zero de carbono até 2050. O Ceará se insere em uma nova etapa da sua história. E isso faz com que o Ceará seja visto, não só no mundo econômico do hidrogênio, mas no mundo da descarbonização. O governador Camilo Santana esteve na COP 26, a governadora Izolda Cela esteve na COP 27, com uma agenda bastante relevante. Tivemos um encontro com o dono da Fortescue, que anunciou perante a COP 27 o fortalecimento dos investimentos que o estado do Ceará pactuou com a Fortescue. Esperamos que até 2024 sejam concluídos todos os estudos de projetos de engenharia, de licenciamento ambiental, econômicos e financeiros, para que o Ceará inicie essa planta aqui no Pecém, que é a planta melhor estruturada, a mais avançada e uma das maiores do mundo de hidrogênio verde. Em dezembro, será inaugurada pela governadora do Ceará a primeira usina de hidrogênio verde da América Latina. Uma planta pequena que vai servir para os estudos. Ela repete um pouco o êxito da energia eólica que quando começamos também fizemos uma planta no Porto do Mucuripe, que foi fundamental para que o Ceará fosse esse protagonista em eólica. Tivemos a oportunidade de ser recebidos pela chancelaria do Reino Unido e também pelo Banco Mundial e teremos uma participação com grandes países do mundo no núcleo que vai se dedicar às discussões sobre o acompanhamento, o monitoramento, o aperfeiçoamento e o desenvolvimento desse processo de descarbonização. O Ceará é uma referência, temos que ver isso com orgulho. Einstein dizia o seguinte: “Pensar grande e pensar pequeno tem o mesmo valor. Se tem o mesmo valor, pense grande, não pense pequeno, aumente o tamanho dos seus sonhos, busque objetivos maiores para poder construir melhores resultados. Outra frase do Einstein: “Não faça a mesma coisa a vida inteira, procure fazer diferente”. O Ceará a vida inteira apostou em um sonho de ter uma refinaria, de prospectar petróleo e não alcançamos esse sonho. Agora, temos um grande sonho real, de ser um protagonista do mundo de produção de hidrogênio verde, a nova energia do mundo. Vamos pensar grande, ficar orgulhosos e trabalhar duro para atingir esses objetivos. Isso irá mudar o Ceará, sem dúvidas.

O Ceará é hoje um hub tecnológico, sendo Fortaleza a segunda cidade do mundo com o maior número de cabos submarinos de fibra ótica. Como se conseguiu atingir esta marca e o que ela representa para o Ceará?
Este resultado atribuo, particularmente, a uma das cadeias econômicas que a gente realçou e está trabalhando no Ceará, pelos exemplos que eu conheci no mundo, chamada logística. Muitas vezes vi projetos fracassarem porque não levaram em consideração a logística necessária para serem competitivos. Isso é um ponto básico para o sucesso econômico de qualquer empreendimento. A primeira multinacional cearense chama-se M. Dias Branco que recentemente comprou uma fábrica de massas e biscoitos no Uruguai. Um ponto fundamental para o seu crescimento foi a estruturação, não só em termos de aquisições, mas de uma estrutura de logística capaz de fazer com que o seu produto chegasse aos mercados. Ivens Dias Branco enxergou o mercado e aí conseguiu crescer rapidamente, através desse custo de oportunidade que ele foi buscar na logística e produtos de tíquete médio baixo. A logística agregou muita relevância em muitos países do mundo. Existem muitos exemplos, e aqui no Ceará, um dos grandes exemplos é que montamos uma siderúrgica sem sermos produtores de carvão, que é o combustível da siderúrgica, de minério de ferro, que é o principal insumo de transformação. Foi a logística do Porto do Pecém que está sendo o diferencial, assim como para o hub de hidrogênio verde. A logística, na minha opinião, é o principal handcap para os cabos submarinos. As primeiras empresas de cabos precisavam conectar o Brasil com outros continentes. Eles procuraram a melhor logística para poder conectar o Brasil internamente e o Brasil com o mundo, porque os dados de todos os estados e todas as cidades brasileiras são canalizados para o exterior através desse ponto de interseção aqui no Ceará. O Ceará já vinha com muitos desses cabos implantados desde 1960, com a história da estruturação de um planejamento de telecomunicações no Brasil, ainda no governo militar. Apenas contribuímos com o conhecimento que tínhamos dessa oportunidade para elastecer não só esses cabos, mas para criar uma infraestrutura do estado onde o Cinturão Digital foi fundamental. Com isso o Ceará ganhou relevância e hoje é o terceiro Estado com a melhor estrutura de negócio na área de conectividade e o terceiro Estado mais conectado. Eu atribuo que esses cabos estão aqui por uma questão lógica e, sobretudo, pela logística de transferência de dados.

Em termos de infraestrutura logística o Ceará conta com o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) como principal atrativo localizado na esquina do Atlântico, com uma administração moderna em parceria com os Países Baixos. Qual é a importância estratégica do CIPP para o Ceará e paras as empresas que lá estão?
Quando concebemos o Pecém, nos anos 90, pela necessidade de atrair alguns grandes investimentos, tínhamos alguns desafios, todos eles atrelados à logística, mas o Ceará só trabalhava a questão rodoviária. Dentro dessa visão de logística, trabalhamos alguns pontos importantes para desenvolver o Ceará e construímos os dois principais equipamentos que o Ceará tem hoje para atender aos desafios de logística. Um deles é o aeroporto de Fortaleza, que já foi ampliado. Ele teve sua primeira ampliação depois de construído e entregue, em 1997, e agora, recentemente, foi entregue a segunda ampliação. O outro foi o Porto do Pecém, que já está na terceira ampliação desde que foi inaugurado, em 2002. Esses dois equipamentos lideram um capital muito grande, junto com as rodovias, e colocaram o Ceará na dianteira em termos de infraestrutura. É através desses pontos que o Ceará realmente pode começar a sonhar em uma economia nova, em buscar parceiros para investimento, multiplicar esses CNPJs que estão aqui gerando emprego, divisas de arrecadação, pela capacidade produtiva que nós temos. O Pecém, por ser um porto moderno, com apenas 20 anos, pela eficiência com que foi projetado e construído e pelos resultados obtidos nas primeiras operações, despertou vários interesses internacionais. Entre eles, o do Porto de Roterdã, que tomou a decisão de adquirir 30% do seu capital, da participação que o Ceará tinha. Hoje, ele é 70% do Governo do Estado do Ceará e 30% é da Companhia Portuária de Roterdã, que é uma companhia que tem como acionistas o governo dos Países Baixos e a prefeitura de Roterdã. Essa parceria ocorre exatamente sobre os resultados de eficiência, de boa governança, de boa governabilidade, de governos continuados, dos resultados atrativos que o Ceará criou nos últimos anos. E com isso ganhamos a grande possibilidade de atingir nos próximos anos um projeto de transformação representa a expectativa que temos como cearenses, que é ver o Ceará crescendo muito mais do que 2% ou 3%. O Ceará precisa crescer durante uma série de anos seguidos entre 4% e 6%, no mínimo de forma continuada, para poder superar suas desigualdades, com uma economia mais inclusiva. A maior aposta que o Ceará tem neste sentido, sem maior sombra de dúvida, é a estrutura que criou e as respostas que pode alcançar através do Complexo Industria e Portuário do Pecém e da sua Zona de Processamento de Exportação.

Nos últimos anos, o Ceará tem voltado suas atenções para o mercado internacional, conquistando um protagonismo nunca antes visto. Quais são as bases que possibilitaram a construção desta relação do Estado com o resto do mundo?
O Ceará ainda tem três pontos extremamente relevantes para criar uma maior sustentação da sua economia. O primeiro é aprimorar o conhecimento, a inovação, a tecnologia, a formação de alunos com o estabelecimento de uma grade de formação profissional, se tornar um centro de inteligência e conhecimento. Além dessa integração no campo do capital humano, o Ceará tem como desafio fazer um trabalho muito forte de internacionalização, que é o que estamos procurando fazer. Lá fora, todos precisam conhecer o que é o Ceará, quem é o Ceará, o que o Ceará produz, como a gente pode estabelecer relações comerciais não só com o Brasil que é um grande mercado, mas com o resto do mundo. Precisamos aumentar a nossa base exportadora e importadora. Agregar valor aqui. Não podemos ser apenas um produtor de commodity, como é o hidrogênio. O hidrogênio no Ceará é uma nova commodity do mundo, fora o grão do Centro-Oeste, fora as proteínas, a carne que o Brasil exporta. Exportar energia em forma de hidrogênio é uma nova commodity, mas a gente precisa agregar o valor aqui, por ser um produtor natural desse novo combustível do mundo, para entrar nessa rota futura, fruto da descarbonização. O Ceará precisa se internacionalizar mais, podemos ser um grande exportador. Podemos ser um grande produtor e, quem sabe, exportador de fertilizante, além do hidrogênio. E precisamos aproveitar essas cadeias econômicas que são fortes geradoras de emprego de maior valor agregado, que vão possibilitar que o Ceará possa reter talentos e atrair talentos. A última oportunidade para que o Ceará possa sustentar essa base, sobretudo, em relação ao resto do mundo, é a oferta de crédito. O setor econômico precisa de crédito, precisamos ampliar a política de crédito e de incentivos. Precisamos ver onde somos competitivos, não adianta produzirmos o que o mundo não quer comprar. Esses são desafios enormes que ainda temos e com o qual estamos trabalhando em um esforço muito grande para mostrar, não só ao Brasil mas ao mundo, o que o Ceará produz. Que os produtos cearenses possam estar não só presentes dentro dos estados brasileiros, mas nos principais países do mundo para fortalecer a nossa economia e garantir o crescimento das empresas locais.

Quais são os desafios do Ceará para seguir consolidando este protagonismo internacional?
Para consolidar precisamos pensar na continuidade e o aperfeiçoamento das políticas que estão em curso. Evitar aquilo que vemos muito, sobretudo em transição de um governo para o outro. Cada governo acha que é mágico e que vai trazer um ponto de eficiência melhor do que o anterior, apagando os projetos anteriores. Precisamos reforçar o aperfeiçoamento dos projetos que estão tendo bom curso de resultado, isso é muito importante. Procurar ser inovador, ter conhecimento diferenciado, oferecer ao mundo coisas diferentes, lastreadas em boas pesquisas. O Ceará está aumentando a pesquisa. Isso é um desafio que o próprio governo tem, por exemplo, na área de mineração, na economia do mar. Isso são fronteiras novas. Além dessa descoberta da capacidade de produzir hidrogênio, precisamos descobrir a capacidade que temos no setor de digitalização. Precisamos encontrar uma base de conhecimento para fortalecer essa economia, como também estamos encontrando. Há 30 anos, só produzíamos no Ceará duas culturas: milho e feijão. Hoje, o Ceará tem 25 culturas novas, inclusive uma que muitos dos cearenses não sabem nem o nome, não sabem nem de onde veio, chamada pitaya. Avocado raso, o que é o avocado raso? É o velho abacate em tamanhos menores, hoje muito bem utilizado pelos nutricionistas. O mirtilo, o que é o mirtilo? É o é o blueberry americano. Essas culturas estão sendo descobertas por pesquisas. Hoje os cajueiros, que não têm nem um metro de altura, têm produtividade dez vezes maior do que esses cajueiros de copa, de dois, três ou quatro metros de altura. Essas transformações, esse ganho de produtividade e essa elasticidade do conhecimento é que vão fazer com que o Ceará possa ser um Estado de alta produtividade, fruto do conhecimento, do capital humano e da boa gestão de empresas. Conhecimento de como se importa, de como se exporta, estabelecer relações com outros países. O governador eleito tem colocado para a população que vai estruturar e fortalecer uma secretaria de relações internacionais, e isso é fundamental. Estruturar essas principais políticas temáticas que vão poder proporcionar um melhor conhecimento para encontrar soluções mais rápidas para a economia, para a questão social, para a proteção ambiental do Ceará, são grandes desafios. O Ceará vai ser um protagonista dessa nova economia que o mundo está pautando, mas esses projetos não vão acontecer do dia para a noite. Eu acho que entre dez e 20 anos o Ceará vai ser um Estado desenvolvido e referência na região.

O que o Ceará espera dos investidores internacionais que estão chegando e o que o Ceará tem a oferecer a eles?
O Ceará está oferecendo um grande ambiente para se fazer negócios, procurando facilitar e garantidor para esses investidores de que vale a pena investir no Ceará. Que aqui eles vão encontrar uma boa governança, uma boa governabilidade, uma terra com recursos e oportunidades com infraestrutura, com capital humano adequado. O que esperamos deles é que eles venham qualificar essa base de empresas que produzem, que geram empregos, não só produzir como gerar mais empregos no Ceará, aumentar a riqueza do Estado para que, através dessa riqueza, possam saber se apropriar e transferir esses recursos de uma forma mais inclusiva para reduzir as desigualdades. Precisamos de parceiros e o Ceará não é um empreendedor sozinho. Mesmo com a participação do Estado, criamos as condições para esses investidores entenderem que o melhor lugar para se investir no Brasil, sobretudo no Nordeste do Brasil, é o Ceará. O ambiente que está se consolidando no estado do Ceará tem a gestão pública, a academia e a sociedade juntas e unidas. Um dos pontos principais foi criar uma ambiência mais desburocratizada, mais simplificada, mais ágil, de resposta e resolutividade para o investidor. Aprimorar a nossa gestão pública, aprimorar a nossa governança, aprimorar a nossa governabilidade, se integrar melhor com a sociedade civil organizada, com os empreendedores, com os setores que produzem, utilizar melhor as universidades e chegar mais próximo da base do conhecimento. Isso são desafios para consolidar esse projeto nos próximos dez anos no Ceará.

Qual é a mensagem para os investidores que estão chegando e os potenciais interessados em expandir seus negócios no Ceará?
O Ceará é uma terra que tem muitas oportunidades, todas as garantias estabelecidas, que está aprimorando seu processo de facilitação para que os investidores venham se estabelecer. Não há nenhuma restrição para aqueles que querem investir, seja do tamanho que for. Um dos principais projetos que criamos nessa área da transição energética é a geração distribuída. Tem mais de dez mil empresas empregando três ou quatro pessoas. Três, quatro pessoas por mais de dez mil empresas, é muito representativo. Poucos segmentos no Ceará geram uma quantidade de empregos tão grande, a mesma coisa está acontecendo na digitalização. Tem mais de dez mil empresas provedoras desenvolvedoras de software trabalhando aqui no Ceará. A minha mensagem é que o Ceará está estruturado, está pronto, tem tido bons governos e que os investidores venham aproveitar as oportunidades que o Ceará está oferecendo, ganhar dinheiro e fazer o nosso crescimento conosco.