A revolução do Hidrogênio Verde
O Ceará vai se tornar o primeiro produtor de Hidrogênio Verde do Brasil, com o lançamento de um hub, localizado no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). Mais 20 Memorandos de Entendimento com gigantes globais do setor de energia já foram assinados (24 Memorandos até novembro de 2022) para sua instalação no hub. Em breve, a Energia Pecém, do grupo português EDP, que já opera com energia termelétrica no CIPP, lançará sua usina de Hidrogênio Verde.
O hidrogênio como combustível é uma das soluções para o futuro de um mundo neutro em carbono. Como elemento mais abundante no universo, o hidrogênio pode ser transformado em fonte de energia por meio de processos térmicos, reagindo com combustíveis do tipo hidrocarboneto. Mas esse tipo de geração produz emissões de carbono, o que não resolve o problema.
Já o chamado hidrogênio verde (h2v) ou hidrogênio renovável é 100% sustentável. Ele é produzido a partir de energias renováveis, como a solar e a eólica, por meio de um processo chamado eletrólise. A eletrólise usa uma corrente elétrica para dividir a água em hidrogênio e oxigênio em um dispositivo chamado eletrolisador. Esse tipo de combustível pode oferecer uma solução ecológica para algumas das indústrias mais poluentes, incluindo a de transportes, química, siderúrgica e de geração de energia.
O potencial desse tipo de geração é enorme. Atualmente, 99% do hidrogênio usado como combustível é produzido a partir de fontes não renováveis. E, de acordo com a Agência Internacional de Energia, menos de 0,1% apenas é produzido por meio da eletrólise da água.
Esse processo está avançando. O último relatório de julho de 2021, do Hydrogen Council, registrou a existência de 359 grandes projetos de hidrogênio em andamento no mundo, estimando que esses investimentos anunciados sejam da ordem de 500 bilhões de dólares. O Estado do Ceará já aparece no mapa. O Hydrogen Council é uma iniciativa global liderada por CEOs de 132 empresas líderes em energia, transporte, indústria e investimento com uma visão unida e de longo prazo para desenvolver a economia do hidrogênio.
O Ceará tem o objetivo de se transformar em um hub de produção e exportação de hidrogênio verde, gerando novas e sustentáveis oportunidades de negócios para empresas do mundo todo. O Estado deve se tornar um ator global na cadeia produtiva do h2v, contribuindo para a redução dos níveis globais de CO2 e promovendo o seu desenvolvimento social, econômico, tecnológico e ambiental. Para isso, projeta a construção do “maior hub de hidrogênio verde do Brasil”, no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, a 60km de Fortaleza.
O Ceará estabeleceu a primeira legislação para empreendimentos de hidrogênio verde no país com uma série de garantias sustentáveis, como a retirada da previsão de instalação de unidades de produção de hidrogênio dentro de áreas protegidas, como campos de dunas, manguezais, bioma Mata Atlântica, zona de amortecimento de unidade de conservação e áreas com aves migratórias.
A Governança do Hub do Hidrogênio Verde do Ceará, instituída por decreto, é feita por um grupo de trabalho multidisciplinar, constituído por representantes do Governo do Ceará, da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP).
O pontapé inicial é da EDP
A primeira usina de Hidrogênio Verde da América Latina deve ser inaugurada em dezembro de 2022. Resultado do trabalho de Pesquisa & Desenvolvimento da termelétrica Energia Pecém, do grupo português EDP, conta com investimento inicial de 42 milhões de reais (cerca de 8 milhões de dólares).
Terá capacidade para produzir até 178 toneladas de hidrogênio verde por ano. Esta usina servirá como modelo para o projeto do hub em vários aspectos, desde a escalabilidade, passando por parcerias com foco na geração, armazenamento, mobilidade, entre outras. Tudo isso favorecendo a utilização de fontes de energia limpa.
A ideia é substituir o carvão mineral na UTE Energia Pecém (720 MW). A instalação será em área disponível junto à termelétrica e alimentado por Planta Fotovoltaica de 3 MW para uma unidade de capacidade de 1,25 MW de eletrólise.
Como esta energia será gerada?
Existem basicamente três fontes de energia para a produção do hidrogênio verde, cuja geração no Ceará vem aumentando todos os anos: solar e eólica, além da hidrelétrica.
A quantidade de água necessária para o processo da eletrólise também é outro aspecto a ser levado em consideração. Se todos os 20 projetos previstos até o momento para o hub do hidrogênio verde se concretizarem, a previsão oficial é de que a demanda de água para eletrólise seja da ordem de 2.14m³/s em 2034. Para suprir essa demanda, já está em andamento um projeto da empresa Utilitas Pecém, que aproveitará a disponibilidade hídrica de 3,7 m³/s de água residual, para transformá-la em água de reuso para o Complexo do Porto do Pecém. Serão até 1.5m³/s de água do sistema de esgoto da Região Metropolitana de Fortaleza em água de reuso, que poderá ser utilizada para produção de hidrogênio verde.
A cadeia de valor do hidrogênio verde abrangerá a produção de energia renovável, a produção, o armazenamento, a distribuição e o consumo de hidrogênio, fertilizantes verdes e petroquímica básica, incluindo combustíveis sintéticos.
Além dos próprios investimentos em Energia e no Hub de Hidrogênio, estes desenvolvimentos trazem com ele uma série de novas oportunidades em setores correlatos das suas cadeias de produção.
Segundo Constantino Frate, coordenador de Atração de Empreendimentos Industriais Estruturais da Sedet, estamos falando de petroquímica básica, produção de gasolina, diesel, combustível de aviação, fertilizantes, tintas, plásticos, solventes, equipamentos como fill cells, que são os equipamentos que vão acoplados ao motor para transformar o hidrogênio em corrente elétrica e acionar o motor elétrico, por exemplo.
Além de sistemas de abastecimento de hidrogênio, bombas, dispensers, compressores, baterias, empresas de serviço, empresas de engenharia, empresas de construção e montagem, empresas de manutenção e empresas de consultoria. Também existe a oportunidade de se criar uma indústria nova no Ceará, a de estaleiros especializados em fabricar estruturas para a geração de energia eólica offshore.
Por que no Ceará?
O Estado tem uma série de condições favoráveis para o desenvolvimento do hub de hidrogênio verde em seu território.
1. Em 2021, o Ceará aderiu a campanhas e acordos na busca por um mundo mais limpo, seguro e sustentável.
2. Grande potencial de geração de energias eólica e solar, utilizadas no processo de produção de hidrogênio verde.
3. Localização geográfica como ponto do Brasil mais próximo da Europa.
4. Ampla conectividade com o continente europeu, graças à parceria do Porto do Pecém com o Porto de Roterdã, maior centro de H2V da Europa. Desde 2018, o Porto do Pecém é administrado pelo Governo do Estado do Ceará e a Port of Rotterdam, empresa que gerencia o Porto de Roterdã, na Holanda.
5. Excelente conectividade aérea com voos semanais para a Europa.
6. Rede elétrica adequada para eletrolisadores.
7. Rede de gás natural do porto a zona industrial.
8. Opção de customização da disponibilidade de água.
9. Tancagem compartilhada.
10. Área superior a 1000 ha disponível para produção de h2v.
11. Sinergia com as indústrias instaladas para o mercado do hidrogênio verde.
Benefícios para as empresas
Como está localizada em uma Zona de Processamento do Exportação (ZPE), a área do hub oferece a todas as empresas um tratamento tributário, cambial e administrativo especial, previsto em Lei.
Até outubro de 2022 o Estado do Ceará já tinha assinado 24 Memorandos de Entendimento com empresas de grande porte. Elas pretendem investir na implantação de plantas industriais para produção de hidrogênio verde no Complexo do Pecém.
A Empresa global de energia verde, A Fortescue Future Industries (FFI), com sede na Austrália também está interessada em participar do Hub e já assinou um Memorando de Entendimento com o Ceará. “Queremos instalar a primeira usina de hidrogênio renovável do Brasil, para estabelecer um novo e importante mercado energético, que será essencial para o meio ambiente”, afirma o gerente de Desenvolvimento de Negócios da FFI no Brasil, Luis Viga.
"O Governo do Ceará tem feito um ótimo trabalho, alinhando objetivos públicos com interesses privados para apoiar o desenvolvimento deste tipo de projetos. Da mesma forma, o Ceará tem potencial competitivo e de larga escala para projetos eólicos e solares, essenciais para o desenvolvimento da indústria do hidrogênio verde. Além disso, possui infraestrutura portuária de classe mundial no Pecém e várias vantagens fiscais, como a ZPE e Sudene, por exemplo", completa Viga.
Considerando apenas os acordos firmados até o momento, o hub do hidrogênio verde do Ceará deverá receber um investimento privado da ordem de 40 bilhões de dólares na construção de infraestruturas para produção de hidrogênio verde nos próximos anos. Caso todos os investimentos se concretizem, a estimativa é de que a produção de hidrogênio verde no Hub gere uma demanda de até 49 GW de energia renovável.
O que é o hidrogênio verde?
Considerado um combustível universal, o hidrogênio, em sua versão “verde”, pode ser obtido ao se utilizar energia renovável, como é o caso da energia eólica e da energia solar/fotovoltaica – fontes abundantes no Ceará, no processo de separação da molécula de H2 da molécula de oxigênio existente na água. Essa tecnologia está baseada na geração do hidrogênio — um combustível universal, leve e muito reativo — por meio de um processo químico conhecido como eletrólise. Na utilização do hidrogênio como combustível, substituindo o uso de fontes não renováveis, consegue-se anular a emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, algo considerado prioritário por países europeus que buscam um avanço sustentável. Dessa forma, também são atendidas as exigências do Acordo de Paris, que prevê a redução da emissão de gases poluentes no meio ambiente por parte das nações participantes.
Quais são os principais mercados consumidores hoje?
Além do potencial de exportação para o Porto de Roterdã, com destino a países europeus, existem oportunidades de movimentação dessa fonte/vetor energético para países como China, Japão e Coreia do Sul, que também já definiram seus planos de descarbonização de sua matriz energética, com planos de importação de hidrogênio verde.
Qual é o potencial do Ceará para este tipo de negócio?
O Ceará tem um amplo potencial para a geração de energia renovável, o que é primordial para viabilizar o desenvolvimento de um mercado de hidrogênio verde. Levando em conta a capacidade instalada e o potencial já calculado de novas instalações de fontes renováveis (eólicas ou fotovoltaicas), além do grande tesouro do Estado, que é a combinação entre as fontes solar e eólica, em um processo híbrido, há um ambiente muito favorável para este tipo de negócio.
Por que o Complexo do Pecém é o local ideal para um hub de hidrogênio verde?
Fatores como uma infraestrutura portuária com novos berços de atracação em área de futura ampliação portuária, com capacidade e calado operacionais adequados às operações de H2V, uma rede elétrica robusta com infraestrutura de linhas de transmissão compatível com as demandas das usinas de eletrólise, uma ampla rede de distribuição de gás que conecta todo o Complexo, desde o Terminal Portuário (píer 2) até as áreas industriais, que pode ser utilizada para o transporte de H2V entre as áreas de produção e consumo industrial e um ecossistema totalmente favorável ao desenvolvimento dessa cadeia citada. Além disso, o Complexo do Pecém tem, em sua ampla área industrial, a única Zona de Processamento de Exportação (Link para matéria sobre ZPE) em operação no Brasil, a ZPE Ceará, sendo um poderoso diferencial competitivo para negócios voltados à exportação, tendo em vista os incentivos fiscais que a ZPE cearense oferece.
O hidrogênio verde é um combustível que pode mudar a forma como o mundo lida com a emissão de CO2?
O hidrogênio verde tem o potencial de revolucionar o sistema de energia atual rumo a um caminho mais limpo, seguro e sustentável devido às suas características versáteis, desde a produção até a sua utilização. A transformação energética proposta mundialmente deve utilizar o H2 como combustível substituto para seus equivalentes de combustível fóssil e pode, sim, apresentar uma solução viável para alcançar uma sociedade com baixa produção de carbono.
O que o mundo pensa do hidrogênio verde?
O cenário externo é favorável, pois o hidrogênio passou a ser visto não mais como um simples combustível, mas como “a solução” para a descarbonização da economia mundial, também chamada de transformação energética. O hidrogênio verde como combustível já é uma realidade em países como Estados Unidos, Rússia, China, França e Alemanha, sendo uma alternativa sustentável para reduzir as emissões de CO2 e cuidar do planeta.
Multimídia
Rádio: Renato Martins, diretor da ABB Brasil
Live: Rebeca Oliveira, diretora de Relações Institucionais do Porto do Pecém, e Cibele Gaspar, mestra em Administração e Gestão Estratégica e diretora da Nexxi Assessoria Financeira
Podcast: Constantino Frate, coordenador de Atração de Investimentos da Cadeia Produtiva do Hidrogênio Verde da Sedet