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Eduardo Amaral (Apodi): Soluções sustentáveis

19:35 14 de novembro de 2022 Por Daniel Oiticica

Eduardo Amaral, diretor Administrativo e Financeiro da Cimento Apodi e presidente da Associação das Empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Aecipp)

A Cimento Apodi tem um histórico de mais de uma década de operação no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). Durante esse período, a instituição expandiu sua visão de mercado nos negócios da cadeia de suprimentos entre as empresas instaladas no Cipp. Nesse universo empresarial, a Associação das Empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Aecipp) tem participado como uma instituição colaborativa, focando no desenvolvimento sustentável do CIPP. Eduardo Amaral é diretor administrativo e financeiro da Cimento Apodi e presidente da Aecipp. Nesta entrevista, ele conta um pouco sobre a atuação dessas instituições no mercado, que está em ascensão, além de projetar os passos para o futuro.

Como começou a história da Cimento Apodi no Complexo Industrial do Porto do Pecém?
O início da nossa operação foi em 2011 com a expedição de cimento e concreto dentro do CIPP. Desde o início até os dias atuais, fornecemos cimento para os projetos de construção das plantas que se instalam dentro do complexo, como do projeto de construção da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP). Nos anos de 2013 e 2014, respectivamente, expandimos a nossa visão estratégica do negócio e abrimos dois Centros de Distribuição (CD). Um deles fica em São Luís, capital do Maranhão, e o outro em Teresina, no Piauí. Desde então, passamos a utilizar o modal logístico ferroviário, por meio da via férrea da Transnordestina, que passa ao lado da nossa unidade industrial (moagem). Dessa forma, conseguimos escoar o nosso produto para os respectivos estados. Com foco em expandir a nossa atuação no mercado para além da região Nordeste, em 2015, abrimos novos CDs em outros estados, entre os quais é possível citar o Pará. Desde então, passamos a escoar cimento via cabotagem com destino à região Norte do País. O CIPP tem um potencial estratégico muito rico no fomento aos negócios. Nós, da Cimento Apodi, além de usufruirmos das vantagens logísticas, já que o complexo tem um posicionamento estratégico, realizamos muitos negócios na cadeia de suprimentos com as empresas instaladas no CIPP. Essas atividades nos conferem baixo custo de transporte, pela proximidade entre as empresas, além da utilização das capacidades produtivas com benefício mútuo para as companhias. Um exemplo disso são os contratos de cinza volante e escória de alto-forno, respectivamente, com as termoelétricas EDP e Eneva, além da CSP. Com essa parceria, adicionamos ao nosso processo produtivo os rejeitos gerados por essas empresas e utilizamos como insumos nas nossas unidades industriais. Esse é um bom exemplo de sinergia e economia circular que se correlaciona com o nosso posicionamento de mercado, que é focado na sustentabilidade. As vantagens de estarmos posicionados no CIPP vão além. Elas se estendem para nossa principal planta, localizada na cidade de Quixeré, uma vez que importamos um de nossos principais insumos pelo Porto do CIPP, utilizando a infraestrutura e os serviços de empresas parceiras, além dos nossos galpões da planta no complexo para proporcionar otimização logística.

Quais são os fatores principais que levaram a companhia a crescer no mercado cearense nos últimos anos?
Os motivos principais são o ambiente econômico favorável para a visão de longo prazo, a inteligência competitiva da Cimento Apodi e seus investidores no mercado, além do nosso foco em incorporar as transformações tecnológicas, fazendo uma boa gestão de pessoas e estimulando um crescimento sustentável.

Quais são vantagens de estar localizada estrategicamente no Complexo Industrial do Porto do Pecém, um porto integrado com a cadeia produtiva?
São inúmeros, mas vou citar a competitividade nos custos logísticos, o ecossistema favorável e a combinação entre negócios e inteligência.

Considerando sua área de atuação na companhia, quais são os segmentos que apresentam maior possibilidade de investimento, para fortalecer a sua cadeia de produção e torná-la ainda mais competitiva?
Nos próximos anos, temos investimentos previstos para as nossas duas plantas de cimento instaladas no Ceará. É uma área com bastante potencial, por isso os investimentos serão na ordem de 200 milhões de reais (cerca de 37,7 milhões de dólares). Nessa etapa, o foco será a energia limpa, substituição de combustíveis fósseis, além do uso de tecnologias de reaproveitamento de processos para eficiência e aumento das capacidades produtivas.

Pensando no futuro, quais são os principais projetos da Cimento Apodi?
Estamos de olho nas oportunidades de investimentos em energia limpa, substituição de combustíveis fósseis e tecnologias de reaproveitamento de processo. Nossa visão está alinhada com a tendência do mundo na busca por soluções sustentáveis para aumento da competitividade. O Ceará, nesse quesito, ocupa uma posição de vanguarda, uma vez que estimula a cadeia do hidrogênio verde como solução energética.

Você também é presidente da Associação das Empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Como funciona a instituição e quais são os seus principais objetivos?
A Associação das Empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Aecipp) é uma instituição colaborativa, com foco no desenvolvimento sustentável do CIPP. Seu planejamento estratégico se fundamenta em três eixos de atuação. São eles: Governança e Gestão, Infraestrutura Industrial e, por fim, Infraestrutura Social. Como agentes fundamentais desse desenvolvimento, temos as empresas associadas e sua cadeia de suprimentos, assim como governos e suas administrações, além de classe acadêmica e as comunidades locais. Nossos projetos englobam treinamento para qualificar a mão de obra da região, qualificação da população local, encaminhamento ao mercado de trabalho, prestação de serviço às comunidades, desenvolvimento de estratégias conjuntas de segurança do trabalho e patrimonial, assim como o estímulo a realização de negócios. Em 2021, encaminhamos 20 mil pessoas ao mercado trabalho, o que resultou na contratação 5.500 vagas efetivadas. O CIPP tem hoje cerca de 79 mil trabalhadores.

Você poderia detalhar o projeto Sinergia que foi lançado no mês de junho de 2022?
O projeto Sinergia foi criado para favorecer a realização de negócios entre seus associados, além de fomentar os negócios da cadeia já instalada no CIPP. Essa atividade possibilita geração de emprego e renda, mais eficiência do capital empregado, o recolhimento local de tributos, além da redução das necessidades de estocagem e logística, uma vez que a produção está na empresa vizinha. Isso é sustentabilidade direta e objetiva. A premissa para isso acontecer é aproximar as pessoas, e o nosso projeto foi desenhado pensando nisso.

Diante desses avanços, quais são os maiores desafios?
Considerando que temos grandes projetos de investimento para os próximos anos, como o fomento do Estado do Ceará na cadeia do hidrogênio verde para a região, isso significa que podemos ter aplicações dobradas no CIPP nos próximos anos. Então, o nosso principal desafio passa a ser o crescimento sustentável, pois a velocidade nos avanços traz fatores que precisam ser acompanhados de maneira estratégica. Para isso, é preciso uma mão de obra disponível qualificada para evitar a concorrência direta entre as empresas. Também é necessário o rompimento da cadeia de suprimentos, demanda de produtos e serviços sem oferta. Nós, que fazemos a Aecipp e empresas instaladas, estamos nos posicionando com esse olhar, o que não deixa de ser um desafio.

O que vocês diriam para os investidores que estão interessados em investir no Ceará?
É preciso que os investidores tenham em mente que o foco deve ser no Estado e não nos governos. Ou seja, é preciso ter um pensamento focado nos resultados a longo prazo. O atrativo para cooptar esses investidores são questões relacionadas ao cumprimento de contratos, benefícios fiscais, vantagens logísticas, infraestrutura já instalada, além do elevado potencial para produção de energia eólica e solar.

Como vocês imaginam o Complexo dentro de 10 anos?
Uma região bem desenvolvida e com uma indústria consolidada. Nós nos imaginamos como liderança na produção de energia verde, como principal fator de desenvolvimento econômico, social e tecnológico.