Entrevistas
Adalberto Pessoa (Sedet): O Ceará hiper conectado
08:05 20 de novembro de 2022 Por Daniel Oiticica
Adalberto Pessoa, assessor especial de atração de investimentos para Comércio, Serviços e Inovação da Sedet
O Ceará ocupa posição de destaque no hub mundial de cabos submarinos de fibra ótica. Por questões logísticas devido a sua posição geográfica, o Estado passou a atrair empresas de comunicação global que buscavam locais para que se tornassem um ponto de distribuição dos seus serviços digitais. Nesta entrevista, Adalberto Pessoa, assessor especial de atração de investimentos para Comércio, Serviços e Inovação da Sedet detalha, entre outros assuntos, o motivo pelo qual o Ceará se tornou uma das mais conectadas do mundo e os negócios beneficiados por esta ampla capacidade tecnológica.
Como o Ceará se tornou um grande centro de conexões de cabos submarinos do mundo?
Como o advento da internet, as grandes empresas de comunicação global passaram a buscar locais que pudessem se tornar pontos para distribuição dos seus serviços digitais. Analisando a questão logística, a posição geográfica do Ceará foi um dos principais fatores para a atrair essas organizações. Por conta da sua localização, o Estado passou, no final da década de 90 e início dos anos 2000, a ser um ponto de confluência de cabos submarinos que fazem a conexão do Brasil, América do Sul, África, Europa, América Central e a Costa Leste norte-americana. Com o crescimento em larga escala do uso da internet, o número de operadoras de telecom, que passaram a ter suas “land stations” aqui no Ceará foi aumentando, chegando ao patamar atual em que coloca Fortaleza como a segunda cidade mais conectada por cabos submarinos no mundo, sendo que 16 desses equipamentos estão instalados na região da Praia do Futuro. Existe uma projeção de expansão desse serviço, com a adição de mais dois cabos para os próximos anos.
Existe espaço para a instalação de novos cabos?
Cada vez mais a necessidade de banda aumenta, o que impõe uma capacidade maior de comunicação e mais investimentos em infraestrutura digital. Nesse sentido, o Ceará se tornou uma rota de dados para as unidades federativas vizinhas e parte da região norte do país. Com o advento do 5G, essa demanda ficará ainda maior, exigindo aumento nos investimentos. Além da infraestrutura de comunicação, o Ceará tem buscado atrair outros elos da cadeia produtiva de TIC, que envolve datacenters, provedores de serviços em nuvem e provedores de soluções. O fortalecimento dessas atividades faz com que a demanda por conectividade cresça de maneira acelerada. Dessa forma, o Ceará passa a ser não só um paraíso dos ventos, mas também daquelas empresas que necessitam de conectividade e infraestrutura de TI.
Que vantagens esta realidade traz para o Ceará?
Nessas condições, o Ceará passa a ter importância global na área de comunicação de dados. Todo o Hemisfério Sul do Atlântico depende das conexões existentes do nosso Estado. Dessa forma, as empresas de telecom fixam suas estações de logística digital aqui, gerando investimentos, além de renda e empregos de alta qualificação. Outro fator importantíssimo é o fato de que, ao sermos hub de comunicação de dados nesse mercado, passamos a ter enormes vantagens competitivas para a atração dos demais setores participantes da cadeia produtiva da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), como por exemplo, empresas ISP, estruturas de datacenters e grandes provedores globais de serviços em nuvem.
Que impactos as atividades deste mercado trazem para o Ceará?
Em paralelo com a essa conectividade global, representada pelo hub externo de comunicação de dados, o Ceará começou a investir, em 2008, na construção de uma infraestrutura interna, que distribuísse a capacidade de comunicação externa para ambiente interno, além de conectar o Estado aos seus municípios. Atualmente, o Ceará possui mais de 140 mil km de fibra ótica, composto por estrutura de backbone, backhaus e última milha, sendo o estado mais conectado do Brasil. Para se ter uma ideia, de 2015 até 2022, surgiram cerca de 500 novos pequenos provedores de acesso à internet, que, com sua operação no Estado, geraram mais de 5 mil empregos. Essa atividade resultou em um faturamento superior a 1,5 bilhão de reais (cerca de 283 milhões de dólares) por ano. Com o acesso à internet em expansão no Ceará, houve a inclusão digital de mais de 2 milhões de pessoas. Aqui, o custo do Mbps para transporte de dados é de aproximadamente 3 reais (cerca de 0,56 dólar) por Mbps, um valor mais de 20 vezes menor do que era há cinco anos e, ao mesmo tempo, um dos mais baixos do Brasil. Esse mercado gera inúmeros benefícios de ordem social e econômica. Com essa abundância em conectividade, o Ceará pode contar com a disponibilidade de infraestrutura de comunicação de dados para qualquer empresa que queira se fixar no Estado, além de capacidade de internalizar investimentos, com o poder de descentralizar a economia, diminuindo os desequilíbrios econômicos regionais. Outro benefício que a liderança nesse segmento traz ao Estado é a oferta de serviços públicos e privados de melhor qualidade nas áreas de educação, saúde, segurança e gestão, por exemplo. Essa medida diminui a evasão de pessoas para grandes cidades.
Quais são os benefícios para os investidores que desejam se instalar no Ceará para ingressar neste mercado?
Empresas globais de telecom ou que atuem internamente são cooptadas, atualmente, por este excesso de conectividade presente no Ceará. A indústria de datacenters também é fortemente atraída por esta ambiência, levando em consideração a oferta de conectividade em lar, o baixo custo e uma melhor gestão de risco. Estruturas de datacenters de disaster recover devem crescer, já que o Estado é um ponto de confluência entre a Costa Leste norte-americana, a América Central, a África, a Europa e a Costa Atlântica da América do Sul. Outra classe de datacenter de nichos que devem ganhar cada vez mais espaço são os datacenters para mineração de blockchains. O Ceará, além da conectividade em si, possui um grande potencial para geração de energias renováveis. Os datacenters são grandes consumidores de energia e todos esses grandes grupos estão migrando sua matriz energética para utilização apenas de energias limpas, o que confere ao Estado um grande diferencial competitivo. Os grandes provedores de serviços em nuvem são atraídos pelos mesmos motivos e também com a visão de disponibilizar suas atividades para os continentes vizinhos, ofertando os negócios com baixa latência, menor custo e melhor gestão de risco. Toda a economia se beneficia destas condições, fazendo com que as empresas sejam atraídas por operar em um ambiente com grande oferta de conectividade, alta disponibilidade dos seus serviços, menores custos, com capitação de mão de obra, além de um ecossistema privilegiado para empresas que necessitem intensivamente de logística digital e infraestrutura em nuvem. Como exemplo, é possível citar grandes empresas de BOO e callcenter, que são atraídas em larga escala pelo Ceará.