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Wally Menezes (IFCE): Visão de futuro

19:31 24 de novembro de 2022 Por Daniel Oiticica

Wally Menezes, Reitor do IFCE

É do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) de onde sai grande parte das transformações e avanços do Ceará rumo a uma economia pujante, que acompanha as necessidades de transformação e crescimento sustentável. Criado em 29 de dezembro de 2008, mediante a integração do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará com as Escolas Agrotécnicas Federais de Crato e de Iguatu, vinculado ao Ministério da Educação, o IFCE é uma autarquia de natureza jurídica, detentora de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar. Nesta entrevista, Wally Menezes, reitor do IFCE, destaca a importância do instituto para o Ceará na formação de talentos e analisa o desenvolvimento econômico e social do Estado.

Quais são os benefícios que o IFCE proporciona à sociedade cearense?
O IFCE vai muito mais além do que somente educação e capacitação. Além de capacitar, formar, de criar perspectivas educacionais, O IFCE permite a interiorização e a apropriação do conhecimento por todo o Ceará, não apenas pelos grandes centros do Estado. Esse é o modelo que vai permitir uma ascensão social, financeira, tecnológica e econômica, com o desenvolvimento da economia local, fixação de talentos, oportunidades de crescimento e acesso a uma educação transformadora e que gera não apenas emprego. Geramos na sociedade a capacidade de empreender e movimentar negócios nacionais e internacionais.

Quais são os diferencias do IFCE?
Grande parte dos nossos professores são mestres e doutores e estão trocando experiências educacionais colaborativas de capacitação, empreendedorismo, inovação. Colaboração, inovação, criação, ataque aos problemas, tudo incorporado no processo educacional. Não trabalhamos com o método tradicional em que o docente fala, o aluno anota e depois faz uma prova. Oferecemos uma educação baseada em desafios e em problemas reais. Vamos usar Fortaleza como exemplo. Um jovem de 14 anos entra na nossa instituição, começa a trabalhar no mercado, a estudar tecnologias diversas como a agricultura, TI, telecom, química, física e matemática. Ao mesmo tempo, tem a primeira experiência com a extensão e com a pesquisa, coisa que em muitas universidades só ocorre aos 20 ou 25 anos. Essa é uma das características primordiais do IFCE, que permite oportunidade aos seus estudantes, assim como à sua família, principalmente no interior do Estado. Nossos alunos têm a chance de empreender, criar negócios, gerar oportunidades e empregos, inclusive imersões internacionais. O jovem de 14 anos que entra na nossa instituição é apresentado ao mundo do trabalho, do empreendedorismo, da extensão e da pesquisa. Aqui, quando o aluno sai do curso técnico, pode ascender ao nosso nível superior, porque temos cursos de licenciatura, bacharelado, além da pós-graduação em nível de mestrado e doutorado. No meu caso, terminei o curso técnico em Telecomunicações e fui fazer Física na universidade. Não tive nenhuma dificuldade com as disciplinas técnicas profissionalizantes porque já havia visto no curso técnico. Não me preocupei porque já havia visto eletrônica digital, analógica e sistemas integrados. Isso tem uma magnitude incalculável. É por isso que é importante destacar o poder de transformação, de fixação de talentos, de inovação, além de ter acesso a pesquisa, extensão, ao mundo dos negócios. Temos alunos de 13 anos com experiências fabulosas. E não somos somente um instituto de tecnologia. Temos artes, licenciaturas, letras, música, cinema, além de um curso de libras que movimenta a questão do acesso daqueles que são considerados invisíveis pela sociedade. Os nossos alunos do curso técnico têm essas experiências porque na hora em que eles fazem um curso técnico em libras, por exemplo, eles ascendem para uma licenciatura e percebem essa sensibilidade das áreas de humanas desde cedo. Isso também é estratégico. O que acontece com a tecnologia, também acontece nas áreas de humanas e você forma um cidadão mais questionador, inclusive questionando se nós mesmos, a nossa extensão, atendem às visões de futuro.

Como você avalia o momento atual do Ceará em seu desenvolvimento econômico e social?
A situação do Ceará atual é fruto de várias histórias. A primeira delas está relacionada à carência. Sempre tivemos muitas dificuldades com a questão da convivência com o semiárido. Dificuldade, inclusive, de se aceitar enquanto cidadão, porque muitas vezes éramos vistos como um peso para o Brasil. Isso nos deu o que chamamos popularmente de “resiliência”. Aprendemos a fazer muito com pouco. Consequentemente, esse aprendizado nos levou a planejar, a exercitar uma visão de futuro. Isso representou uma grande transformação para pensar em políticas de crescimento mais abrangentes. Tudo começou, primeiramente, com o combate à desnutrição que nos rendeu vários prêmios e reconhecimentos. Depois, passamos a projetar a gestão do recurso público na educação e essa foi a grande virada de chave. A outra grande virada de chave foi a vontade de fazer uma política de Estado, pensando não somente no Ceará, mas também com uma visão internacional. Tínhamos uma carência, que nos ensinou a trabalhar com pouco, a buscar resultados eficientes com poucos recursos e que, mesmo depois das crises, nos fez conseguir resultados expressivos.

Muitas novas oportunidades estão surgindo no Ceará…
Aquilo que nos era mais caro, como a intensidade solar e a questão do nosso semiárido, é hoje o que nos permite realizar uma grande transformação econômica, com as energias renováveis, eólica, solar, eólica offshore, além do hidrogênio em todas as suas cores. Temos uma economia de biomassa, a parte de vegetação e de convivência com o semiárido, respeitando a caatinga e tratando a desertificação. E também geramos grandes pesquisas. Duas patentes em hidrogênio do Brasil são do IFCE. E quando chegamos com o IFCE, os municípios se transformaram, porque o maior capital com o qual transformamos a vida das pessoas é a educação empreendedora, focada em resultados e em políticas de Estado. Isso não envolve somente a parte de transição de energia, mas a parte de tecnologia, como sistemas de rastreabilidade, do agro, do 5G, da nuvem.

Como a disponibilização dessa educação transformadora reflete na qualidade da mão de obra e na inserção dos jovens no mercado de trabalho?
Hoje, temos estudantes que, no interior do Ceará, estão programando para a Austrália, para a Meta, Apple, Samsung, LG e outras grandes instituições internacionais. Sinto como se estivéssemos transformando o Ceará em um Vale do Silício. Produzimos trilhas educacionais que permitem que as pessoas possam transformar sua vida social, humana e enquanto ser holístico.

Como você enxerga o futuro do Ceará?
Contamos com uma visão de Estado que se preocupa com as pessoas, não só com a possibilidade de atrair negócios. Aprendemos a fazer muito com pouco e não podemos perder essa pegada. Quando vislumbramos o Ceará, vemos que ele pode sustentar sozinho o país de forma energética. Temos o Cinturão Digital, de onde partem os cabos submarinos. Minha visão de futuro é de conectividade, na qual possamos transformar cidades do ponto de vista tecnológico. Outro ponto a se destacar é a importância de as academias conversarem. Menos competição e mais colaboração. Minha visão de futuro também é de colaboração.