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Leonardo Retto (Telite): Telhas que produzem energia

19:40 14 de novembro de 2022 Por Daniel Oiticica

Leonardo Retto, CEO e fundador da Telhas Telite

Fundada em 2013, no Rio de Janeiro, onde mantém sua empresa matriz, a Telite S.A produz telhas sustentáveis a partir de resíduos sólidos, além de desenvolver telhas solares que produzem energia. Agora, a empresa chega ao Ceará, confirmando a vocação do Estado no desenvolvimento sustentável. A empresa vai se instalar no município de Quixadá e enxergou no Ceará uma oportunidade de expandir seus negócios, proporcionando a geração de emprego e renda. Em fase de construção, a previsão é de que a Telhas Telite comece suas operações em junho de 2023.

Por que escolheram o Ceará para a construção da nova fábrica da Telhas Telite?
Nossa primeira fábrica matriz está no Rio de Janeiro, desde 2013. A empresa foi fundada com captação de investimentos. Através do deputado estadual Salmito Filho (PDT), que tem um projeto de desenvolvimento para atrair empresas de outros estados para o Ceará, fortalecendo a geração de emprego e renda, recebemos um convite para nos instalar no Estado. O Ceará era um estado estratégico. Primeiro, porque os nossos tíquetes de venda da telha sustentável em si são mais altos na região Nordeste. Com a telha solar, estando no Ceará, quase na esquina para Europa, temos companhias de seis países com cartas já assinadas com a intenção de distribuir nossas telhas por lá. Então, fazia todo o sentido também ter uma fábrica logisticamente próximo da rota para Europa, como é o caso do Ceará. Tivemos acesso a todos os órgãos governamentais necessários para emitir licenças. A obra foi carimbada pelo Governo do Estado, que entrou com o galpão, e nós entramos com o investimento. Inicialmente, nossa expectativa é comprarmos os resíduos em Quixadá, envolvendo mais de 70 mil pessoas. Só para termos uma noção, no Rio de Janeiro, o tíquete médio recebido pelas famílias que entregam para a gente os materiais recicláveis gira em torno dos 356 reais (cerca de 67 dólares). É uma ajuda fantástica no orçamento delas.

Além de proporcionar uma renda extra para famílias que reciclam, o produto é sustentável…
É sustentável e proporciona geração de renda. Nós fazemos as telhas com as embalagens que iriam para o lixo da casa. Além de tudo isso, acoplamos energia solar nesse projeto para gerar energia solar desse produto sustentável.

Quando vocês começarão com as obras para a abertura da empresa?
As obras para o galpão de Quixadá estão previstas para começar no fim de outubro. Estamos com a empresa aberta, com funcionários trabalhando na parte de resíduo porque temos um processo de coleta e separação desses resíduos para transformá-lo em matéria prima e, por fim, nas telhas. Esse pré-operacional já está funcionando no Ceará e logo começaremos com a operação de compra de resíduos das donas de casa e das próprias empresas. Dessa forma, já começamos a impactar não só com a renda, mas também com a geração de emprego. Vamos impactar mais ainda no momento em que tivermos a instalação da telha, ajudando na parte ambiental como já impacta agora quando tiramos esse material e transformamos em produto. Acredito que, até meados de junho de 2023, a empresa estará toda montada e operando.

Como funciona a telha ecológica?
Uma coisa que sempre fizemos foi comprar matéria-prima reciclável no mercado tradicional para transformar em telha. Por isso, sempre tivemos um produto sustentável, reciclável e aceito no mercado. Chegou o momento em que decidimos adaptar a tecnologia e a economia real ao que é a nossa indústria. Primeiro criamos um aplicativo para coleta desse resíduo. Dessa forma, todo mundo que entrega o resíduo pode agendar pelo aplicativo. Depois que coletamos, a pessoa solicita um Pix e fazemos o pagamento. Essa plataforma faz a cadeia de coleta seletiva funcionar.

Como surgiu a ideia de promover essas inovações?
Se eu compro matéria-prima reciclada no mercado ou na indústria, por que não fazer matéria-prima? Hoje, nós fabricamos a nossa matéria-prima com esses resíduos retirados das casas das pessoas. Mas eu não podia ter uma desorganização na chegada desse resíduo, porque isso iria ocasionar uma grande confusão na minha indústria. Então, fomos aprimorando nosso sistema de gestão de resíduo. O sistema que funciona hoje é assim: todo lote que chega de resíduo, seja da dona de casa, seja da indústria, recebe um QR code logo no início. Dessa forma, eu consigo fazer a leitura e compartilhar com quem está fornecendo, sua movimentação, até a transformação em telha. Esse QR code é impresso depois no material e, dessa maneira, onde essa telha estiver instalada, é possível ler aquele QR code e descobrir data, de onde veio o resíduo, o tipo de material do qual foi produzido, a quantidade de telhas e para onde foram vendidas. Isso deu rastreabilidade no processo, fazendo com que as empresas nos enviassem mais resíduos. Estamos fornecendo bolsas de estudo e esse projeto já está em andamento na Universidade Federal do Ceará (UFC) de Quixadá. Hoje atendemos grandes corporações, porque temos um sistema de rastreabilidade em blockchain.

E agora estão produzindo telhas que geram energia…
A partir deste momento, olhei para essa telha em 2019 e pensei: “é um baita produto sustentável”. E, pensando nisso, por que não acoplar energia limpa em parte desse produto? E assim fizemos. Começamos a pesquisar e a desenvolver a questão da geração de energia por meio do grafeno. Inicialmente, conseguimos validar 60 quilowatts e agora, junto com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que representa a rede de laboratórios, junto com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), vamos levar ao mercado, até janeiro de 2023, um telhado que gera 150 quilowatts por telha. Fechamos os ciclos de coleta e qualidade, transformamos, aplicamos rastreabilidade e ainda acoplamos energia nesse produto. É um grande produto que, além de tirar resíduos do meio ambiente e gerar renda, dá vida útil ao resíduo novamente por 80 anos. Além de tudo isso, você leva a energia limpa renovável, em um produto que pode ser até por assinatura.