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Joaquim Cartaxo (Sebrae/CE): Um bem infinito

18:22 15 de novembro de 2022 Por Daniel Oiticica

Joaquim Cartaxo, diretor superintendente do Sebrae/CE

Com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento dos negócios criativos e ampliar cada vez mais a participação deste segmento na geração de emprego e renda, as noves unidades estaduais do Sebrae da região Nordeste, em parceria com o Sebrae Nacional e a Associação Brasileira dos Sebrae Estaduais/Nordeste (Abase/NE), lideram o Projeto Regional Nordeste da Cadeia de Valor da Economia Criativa. Nesta entrevista, Joaquim Cartaxo, Diretor Superintendente do Sebrae/CE, detalha as ações da iniciativa e explica por que a Economia Criativa do Ceará é uma excelente oportunidade de investimentos. 

Como o Ceará está posicionado dentro da Cadeia de Valor da Economia Criativa?
Mundialmente, a Economia Criativa é um dos setores que mais cresceu, nos últimos anos. Hoje, responde por cerca de 3% a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. No Brasil, também é um setor destacado da economia, que congrega uma gama muito ampla de atividades econômicas, que vão do patrimônio cultural e festas populares ao desenvolvimento de jogos eletrônicos e softwares. Mas também é um segmento ainda muito marcado pela informalidade, onde, muitas vezes, os seus principais atores não se veem como agentes econômicos. E o Ceará está inserido neste contexto da Região Nordeste, que se apresenta como um polo desse potencial criativo e cultural pela sua multiplicidade de manifestações. Dentro deste caldeirão criativo, o Ceará é uma referência na região, tanto pela força dos seus diversos segmentos econômicos que estão inseridos na Economia Criativa, como também pela interseção de boa parte destes segmentos criativos com o setor do Turismo, onde o Ceará também tem uma atuação destacada em nível nacional.

Quais são os setores da Economia Criativa com maior potencial no Ceará e por quê?
O Ceará tem uma gama muito ampla de atividades criativas sendo desenvolvidas e contribuindo para a geração de emprego e renda por todo o território. Mas como destaque posso citar algumas atividades onde o Estado já tem uma tradição forte, como a Moda, o Artesanato e a Gastronomia, principalmente na associação destas atividades com o turismo. Por outro lado, também vêm crescendo significativamente no Ceará a participação de novos segmentos econômicos criativos, como é o caso das startups e das empresas de desenvolvimento de games. Duas áreas, em que o Sebrae/CE vem dando uma contribuição muito forte para o fomento e o desenvolvimento dos negócios. Outro segmento criativo que vem crescendo no Estado é o do Design. Não é à toa que a cidade de Fortaleza, foi escolhida em 2019, para integrar a Rede de Cidades Criativas da Unesco, como Cidade Criativa do Design. Esta escolha foi fruto de todo um trabalho desenvolvido por diversas instituições públicas e privadas, como o Sebrae/CE e a Prefeitura de Fortaleza. Ainda como exemplo da força do Design cearense, posso citar o exemplo do designer Leo Ferreiro, que foi apoiado pelo Sebrae/CE por meio de edital público. Uma cadeira desenvolvida por ele conquistou premiações nacionais como o Prêmio Design MCB (2021), promovida pelo Museu da Casa Brasileira e o Brasil Design Award 2021. E agora, ele está concorrendo em uma das mais importantes premiações do setor de design no mundo, que é o IF Award 2023, que será realizado na Alemanha.

Quais são os principais objetivos do Projeto Regional Nordeste da Cadeia de Valor da Economia Criativa?
Esse projeto é uma ação integrada e colaborativa das noves unidades estaduais do Sebrae da região, em parceria com o Sebrae Nacional e a Associação Brasileira dos Sebrae Estaduais/Nordeste (Abase/NE), visando contribuir para o desenvolvimento dos negócios criativos, de modo a ampliar cada vez mais a participação deste segmento na geração de emprego e renda. Para isso, atuamos com o intuito de potencializar o ecossistema da cadeia de valor da Economia Criativa na região Nordeste, estimulando um ambiente favorável à transformação digital e à sustentabilidade empreendedora dos negócios criativos, por meio da qualificação em gestão, inovação e acesso a novos mercados.

Quais são as principais ações que englobam o Projeto no Ceará?
O projeto de Economia Criativa do Sebrae no Ceará tem uma atuação muito ampla, que está segmentada em quatro grandes grupos de ações, divididos nas áreas de Ambiente, Gestão, Inovação e Mercado.Na área de ambiente, desenvolvemos ações de fomento a políticas públicas que favoreçam a geração de negócios da Economia Criativa e a produção associada destes segmentos ao turismo, através da qualificação de empreendedores e promoção de boas práticas nos territórios da região Nordeste.Na área da gestão é que estão inseridas as capacitações, que visam aumentar a competitividade dos negócios criativos. Nelas, nós trabalhamos atividades e competências ligadas à gestão do negócio, como a precificação, o empreendedorismo, o associativismo, finanças, marketing, entre outros conhecimentos, importantes para quem desenvolve a atividade empreendedora. Já na área da Inovação, buscamos apoiar estes negócios criativos na promoção e no acesso à inovação, com lançamento de editais para estimular os empreendedores criativos a transformarem suas ideias em negócios, ou seja, ajudando a fortalecer o processo criativo como negócio competitivo e sustentável. Também incentivamos a inserção dos setores da Economia Criativa nos programas de inovação.Por fim, na área de mercado, é onde trabalhamos a questão da comercialização dos produtos ou serviços criativos, a partir da promoção de ações preparatórias de acesso a novos mercados para os empreendedores criativos. Também apoiamos a divulgação e produção de bens e serviços dos diversos segmentos da Economia Criativa da região Nordeste e dos territórios criativos, através de ferramentas de promoção comercial como mostras, encontros de negócios e exposições.

Que balanço você faz destas ações?
Considero-as extremamente positivas. Um grande indicador disso é a renovação deste projeto pelo Sebrae Nacional, por mais dois anos. Nesta primeira edição, o projeto possibilitou a oportunidade de colocar o tema da Economia Criativa entre as prioridades do Sebrae/CE. Antes, esta temática era realizada pontualmente, de forma fragmentada, relacionada a setores criativos que já estavam mais organizados, como a Música, o Artesanato, o Audiovisual, entre outros. Com este projeto, foi possível estabelecer ações orientadas e articuladas para fortalecer os negócios criativos em todas as regiões do Ceará. Um dos frutos deste trabalho foi o lançamento de uma Edital para apoiar os negócios criativos no estado, que destinou um valor total de 280 milhões de reais (cerca de 52,8 milhões de dólares) para apoiar 28 projetos selecionados. Além disso, uma importante parceria entre o Sebrae e British Council possibilitou a capacitação de empreendedores criativos e sociais, integrantes de grupos vulneráveis, das cidades de Fortaleza, Juazeiro do Norte e Sobral. Cito ainda como iniciativa deste projeto, o levantamento e análise feito sobre as abordagens e experiências nos Sebrae Nordeste para desenvolvimento de territórios criativos, com o intuito de alinhar quanto ao método de abordagem mais efetivo a ser adotado nos estados. Após esta análise, foi realizada uma capacitação para os gestores de Economia Criativa dos Sebraes do Nordeste e também teve como outro desdobramento a publicação do livro Territórios Criativos – Caminhos para uma prática eficaz. Também foi realizado um levantamento de dados e informações para estudo da cadeia produtiva da Economia Criativa no Estado do Ceará. Através desse trabalho foi feita uma análise do desenvolvimento dos setores da Economia Criativa ao longo dos últimos 20 anos. Esta variedade de atividades, dão um pouco da dimensão do impacto do Projeto do Sebrae em toda cadeia produtiva da Economia Criativa do Estado.

Quais são os maiores desafios da Indústria Criativa no Ceará?
Acredito que os desafios da indústria criativa cearense sejam os mesmos de outros locais. O Ceará é um estado que possui um potencial criativo muito grande, some-se a isso a existência de todo um ambiente que vem se constituindo na região, sobretudo de estímulo à inovação e a criatividade. O que nos falta, a exemplo de outros locais, é transformar este potencial e esta criatividade em negócios criativos, porque quando falamos de Economia Criativa, estamos falando necessariamente da geração de negócios. E é aí que o Sebrae entra, tentando ajudar estes profissionais criativos a se verem também como empreendedores, capazes de transformar o seu ofício criativo em um negócio competitivo e economicamente sustentável.

O que dizer para potenciais investidores do setor como forma de atraí-los para o Ceará?
Em primeiro lugar, eu diria que apostar na Economia Criativa é apostar em um segmento que tem como matéria prima um bem infinito, que é a capacidade humana de criar, de transpor ideias. Por si só, isso já diz muito sobre o potencial da Economia Criativa, que é apontada por muitos estudiosos como a Economia do século XXI. E o Ceará, além ser este grande celeiro de criatividade, que abriga inúmeras manifestações artístico-culturais e uma grande gama de profissionais que atuam em atividades relacionadas à Economia Criativa, também é um Estado que tem buscado, por meio de diversas ações do poder público e de instituições como o Sebrae, construir um ambiente favorável ao desenvolvimento deste negócios criativos e inovadores, vide por exemplo, o HUB de Dados, com os cabos submarinos internacionais de fibra ótica, que, junto com o Cinturão Digital, colocam o Estado em uma situação privilegiada no que se refere à conectividade e a inovação.