Marcel Imaizumi (Vicunha): Entendimento da cadeia de produção
Marcel Imaizumi, Chief Operation Officer da Vicunha
Uma das empresas emblema do Ceará, a Vicunha iniciou as operações no Estado em 1985. Esta multinacional brasileira presente na América Latina, Europa e Ásia, tem mais de 50 anos de mercado e é uma referência global em soluções jeanswear, atuando no segmento de tecidos denim e brim. Atualmente, a Vicunha conta com duas fábricas instaladas no Ceará que produzem 9 milhões de metros de tecidos por mês e empregam quase 4 mil pessoas. Nesta entrevista, Marcel Imaizumi, Chief Operation Officer da Vicunha, faz um balanço sobre as operações da companhia, revela projetos futuros e conta quais são as vantagens de operar no Ceará.
Que balanço você faz do momento atual da Vicunha no Ceará?
A pandemia foi um marco importante na economia do Brasil e do mundo pelas consequências que trouxe e o desarranjo logístico que gerou. Na Vicunha, fizemos uma gestão de guerra dentro da organização. A orientação sempre foi a de não perder mão de obra. Nosso primeiro objetivo foi manter as fábricas funcionando minimamente do ponto de vista de manutenções e não deixar as máquinas pararem. Depois, veio a grande luta para criar ambientes seguros dentro das fábricas. Nossos protocolos de segurança se tornaram mais rígidos do que qualquer protocolo que tínhamos definido até então. Enquanto todo mundo estava com medo, usamos uma estratégia real de voltar a produzir porque acreditávamos, e essa crença se concretizou, que o mercado ia voltar com tudo porque ficou parado muito tempo. Criamos junto aos fornecedores toda uma estratégia para voltar com força no momento em que pudéssemos trabalhar. E saímos realmente em vantagem com os nossos fornecedores. O mercado voltou mais aquecido e nós muito bem estruturados na questão dos suprimentos. Isso nos permitiu entrar em 2021 também muito fortalecidos. Enquanto as outras empresas ainda estavam tentando se reorganizar na cadeia de suprimento, essas questões já não eram um problema para nós. O ano de 2021 foi muito bom e 2022, igualmente bom. A empresa conseguiu manter um posicionamento de liderança no relacionamento que a gente tem com a cadeia, fornecedores e clientes.
Quais são as maiores fortalezas da Vicunha no Ceará?
A fortaleza da Vicunha está no entendimento da cadeia, das tendências que estão ocorrendo em termos de ambiente de negócio, o que cria uma resiliência natural na organização. Isso também representa uma proatividade de antever necessidades e caminhar uma trilha de estratégia que já definimos como pilares, seja de sustentabilidade, seja de inovação ou seja de uma excelência operacional, porque isso faz parte do próprio DNA da organização, que lá trás escolheu o Ceará para investir. Quando chagamos ao Nordeste, existia realmente um problema de qualificação de mão de obra, escassez de água e problemas logísticos. Superamos tudo e isso foi um aprendizado que perenizou algumas coisas importantes para nós. A questão de água, por exemplo. Eu tinha que aprender a tratar a água de um jeito diferente. Hoje, temos projetos que envolvem o tema da sustentabilidade e da inovação.
Quais são estes projetos?
É importante dizer o que nós queremos ser na cadeia de mercado que escolhemos chamado Jeans. Estamos posicionados e somos um dos grandes conhecedores desse mundo chamado Jeans Wear. Este conhecimento de toda a cadeia se traduz também em serviços e produtos que oferecemos, informações e suporte de valores e de ações para o cliente de maneira a fundamentar as coisas em que a Vicunha acredita. Acreditamos muito em todo um processo educacional e contamos com um programa de treinamento chamado V.Academy, uma plataforma de treinamento interno que também estamos usando para dar treinamento aos nossos clientes. Temos também o V.Laundry, que será lançado em dezembro. Por que a lavanderia é importante para nós? Porque 100% dos nossos tecidos passam por um processo de lavanderia. A Vicunha começou a perceber que um dos problemas da cadeia era a falta de conhecimento. Criamos, então, este projeto físico e escolhemos o Ceará, nossa sede, onde operamos uma das maiores fábricas de Jeans do mundo. Criamos lá dentro uma mini fábrica, um mini conceito de costura, um mini conceito de lavanderia, com todos os equipamentos de última geração. No fim de 2022, inauguraremos este grande laboratório em uma área de 2.300 metros quadrados, com investimento de algumas dezenas de milhões de reais que vai ser um ponto de encontro de fornecedores, funcionários, clientes, imprensa e de todos ligados a este mundo. Lá, podemos materializar um conceito que reúne tudo o que acreditamos como deve ser o futuro daqui para frente. O V.Laundry está amparado por outros recursos também. Estamos trazendo ferramentas de simulação gráfica de calça, ou seja, você vai ver em tempo real uma calça sendo produzida ou planejada de maneira digital. Isso é um conceito em que usamos a tecnologia para romper barreiras, para ganhar tempo e não ficarmos produzindo amostras, amostras e amostras. Conseguimos ganhar velocidade, tempo, recurso, combustível ou avião. A V.Laundry encapsula todo um arranjo de inovação. Vai ser utilizada para desenvolvimento do nosso produto e do produto dos nossos clientes. Um dia pode ser que isso vire um serviço, mas primeiro estamos querendo mostrar esse mundo para as pessoas que estão envolvidas nesse mundo, um jeito diferente de trabalhar. Então, a Vicunha faz o quê? Eu vendo tecido. Mas eu tenho que agregar conhecimento, inovação e serviço para ser diferente, para agregar valor na cadeia do nosso cliente. Se as marcas querem entender o que se pode fazer sobre produtos, sustentabilidade, qualquer coisa, podem vir para a Vicunha e se abastecer com esse tipo de informação e conhecimento. Essa é a nossa missão.
Quais são as vantagens para a Vicunha de estar instalada no Ceará?
Não existe nenhum arrependimento de ter apostado no Ceará, um Estado que acolheu a Vicunha desde o início, nos apoia de maneira incondicional, e isso é muito importante. Temos um Ceará que entende a relevância de uma organização e oferece ajuda para sobreviver, porque eu sempre falo, antes de mais nada, temos que sobreviver. Sobreviver no mundo empresarial significa ter o retorno financeiro aos investimentos de maneira adequada e saudável. Temos uma estrutura logística de exportação muito interessante, estamos mais perto da Europa do que de São Paulo. Eu levo um navio para a Europa e em sete dias estou lá. A condição estrutural do Ceará é diferenciada. Permite continuarmos acreditando, apostando, fazendo os investimentos porque somos uma indústria de capital intensivo. São dezenas e dezenas de milhões de investimentos para manter o negócio, fora os projetos de expansão que sempre temos. Estamos sempre crescendo. O Ceará oferece uma condição de ambiente empresarial muito amigável e também está crescendo, com seus projetos de tecnologia, hidrogênio verde, o próprio Complexo do Pecém. A continuidade deste crescimento depende fortemente de um trabalho de formação de pessoas, formação de jovens, e com isto também a Vicunha está liderando alguns projetos. Temos o sistema do Senai (Serviço Nacional da Indústria) que é muito forte; temos as escolas itinerantes; temos a indústria do conhecimento dentro da Vicunha, com alguns projetos internos, sociais, de educação e de profissionalização de jovens, como o projeto Pescar, que já tem 20 anos. Hoje temos pessoas que daqui a pouco vão ser gerentes de fábrica que vieram de programas dessa natureza. Temos a formação interna de técnicos têxteis com a ajuda das escolas técnicas e estamos discutindo também agora com os municípios, como o de Maracanaú, dar um reforço no ensino médio. A ideia é tentar atrair aqueles jovens que estão saindo do ensino médio e dar um direcionamento mais empresarial. Vamos continuar crescendo e nesse crescimento, não tenham dúvida, o Ceará e as fábricas do Nordeste terão o seu espaço importante no rol de investimento, porque também temos projetos sendo desenvolvidos de alta tecnologia.
Quais são as oportunidades que a Vicunha vislumbra para os investidores dentro da lógica da sua cadeia de produção?
Começamos com infraestrutura. Uma indústria para investir precisa ter certeza de que existem aterros sanitários industriais adequados para receber os seus resíduos industriais, de que a parte de saneamento esteja 100%, garantir fornecimento de água, gás, energia, biomassa, energia alternativas, como a solar. Tem muitas oportunidades na área de infraestrutura. Na questão logística temos um projeto maravilhoso que é o da Transnordestina. Por que não conectamos a malha ferroviária à malha naval? Outra oportunidade de investimento. Também vejo um movimento muito forte de fomentar a atração de investimentos por parte do Ceará. Em relação a oportunidades dentro da nossa cadeia de produção, eu posso contar que no passado a Vicunha investiu para atrair uma empresa química que hoje fica a 400 metros de distância da nossa fábrica. Mas, não quer dizer que viramos indústria química. Existem outras indústrias que estamos tentando atrair, como a de embalagens, por exemplo. Hoje, trazemos embalagens, tubo oco, tubo de papelão de outros estados, a centenas de quilômetros. Existe também a possibilidade de geração de um monte de serviços de manutenção. Temos muito espaço para pequenos, médios e grandes projetos de empresas.