Lucio Bomfim (BI Energia): Bons ventos para a energia
Lucio Bomfim, sócio da BI Energia
Fundada em 2015 por Lucio Bomfim e dois sócios italianos, a BI Energia é pioneira no desenvolvimento de projetos de energia eólica offshore no Brasil. Após anos de consolidação das atividades na Itália, a empresa partiu para novos mercados. E o país escolhido foi o Brasil. A empresa apostou no Ceará para implementar o primeiro complexo eólico offshore do país, no município de Caucaia. Em produção máxima, o complexo eólico Caucaia será capaz de suprir a necessidade de consumo energético residencial de 30% do Estado do Ceará. Esse primeiro projeto da empresa vem recebendo o apoio do Estado e deverá gerar novos negócios e empregos. Nesta entrevista, Lucio Bomfim, sócio da BI Energia, explica em detalhes o projeto da usina e revela que outros negócios ela vai beneficiar no Ceará.
Por que o Ceará foi o local escolhido para a instalação da Usina da BI Energia?
Estudamos os ventos do Nordeste e constatamos que o litoral do Ceará reúne as melhores condições do mundo para estabelecer um projeto de energia eólica offshore. As condições são muito melhores do que na Europa, por exemplo. Enquanto aqui a capacidade de aproveitamento do vento chega a 65%, na Europa gira em torno de 25% a 30%, nos mares do Norte e Báltico. Além disso, aqui não temos rajadas que inviabilizam a captação de energia, enquanto na Europa é necessário travar as turbinas para evitar acidentes. Das 8,6 mil horas/ano, calculamos que somente em 200 horas não teremos ventos suficientes para gerar energia. Outra vantagem é que o litoral brasileiro é comparativamente mais raso, entre 10 e 20 metros nos primeiros 50 metros de costa, o que reduz os custos na implantação do projeto. Tudo é favorável para que o offshore eólico gere bastante energia. Para comparar, a captação hidroelétrica apresenta os mesmos 60% de capacidade geração que as usinas offshore. Fizemos um estudo e concluímos que, se fizermos sete usinas iguais à de Caucaia no litoral do Nordeste, não precisaríamos consumir a água da represa de Sobradinho para gerar energia, podendo ser utilizada para irrigação e consumo humano.
Como o Estado do Ceará vem contribuindo para a concretização do projeto?
O Estado tem nos ajudado muito, destravando toda a burocracia. Não é possível fazer tudo porque o licenciamento depende do Governo Federal. Mas, se dependesse apenas do Ceará, já estaríamos com o contrato de cessão da área.
Qual é a previsão para o início da construção da usina de Caucaia?
Caso o Ibama libere a licença prévia até janeiro de 2023, teremos dois anos para elaborar o projeto executivo, dimensionar a fundação e solicitar a segunda licença do Ibama para a instalação, que exige mais detalhamentos. São estudos mais aprofundados que avaliam os impactos ambientais e as medidas mitigadoras. Em paralelo, tenho que firmar um contrato com o governo para utilizar a área do mar, pagando pelo seu uso. Esse processo foi colocado pelo Ministério das Minas e Energia em consulta pública, que termina em 9 de outubro. A partir daí saberemos quais são as normas para participarmos da licitação. Portanto, acredito que começaremos a construir a usina em 2025, e com as operações tendo início em 2027.
A usina de Caucaia vai abrir novas oportunidades de negócios para diversas empresas. Que setores serão beneficiados?
Para elaborar os estudos de impacto ambiental já contratamos os serviços de especialistas aqui no Ceará, em outros Estados do Nordeste e até no Rio de Janeiro. Elaboramos estudos de oceanografia, pesca, biologia, meteorologia, contratamos até especialistas em migração de aves marinhas. Numa segunda etapa, teremos o desenvolvimento do projeto de engenharia. Especialistas em cálculos para a fundação e para dimensionar as linhas de transmissão. Para a fundação será necessário contratar os serviços de siderúrgicas do Ceará, que construirão as peças. Daremos oportunidades a estudantes universitários para mão de obra qualificada para dimensionar as linhas de transmissão submarinas. E queremos contratar empresas cearenses para fabricar as turbinas aqui mesmo no Estado. Elas são maiores e mais complexas que o equipamento de terra. O Ceará está negociando com o governo federal para destravar o processo e formar um polo para produzir essas turbinas para projetos em todo o país. Teremos também que fazer o aleitamento do solo para sustentar as turbinas, por isso teremos que contratar pedreiras. Também precisaremos de técnicos de nível médio para a operação da usina. São, portanto, várias oportunidades de negócios para diversos segmentos
Além do Complexo de Caucaia, quais são os outros projetos de energia offshore da BI Energia?
Temos três projetos em avaliação pelo Ibama. Caucaia, que é o mais avançado, e deverá gerar 576 MW; a usina de Camocim, também no Ceará, que terá capacidade de 1.200 MW e mais um no Rio Grande do Norte, a usina de Pedra Grande, de 624 MW.