José Gomes da Costa (BNB): Diversidade de oportunidades
José Gomes da Costa, presidente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB)
O Banco do Nordeste do Brasil (BNB) é um dos maiores bancos de desenvolvimento regional da América Latina com a missão de atuar como Banco de Desenvolvimento da Região Nordeste. Fundado em 1952, como uma instituição financeira múltipla, está organizada sob a forma de sociedade de economia mista, de capital aberto, tendo mais de 90% de seu capital sob o controle do Governo do Brasil. Com sede no Ceará, o BNB tem sido um grande motor do crescimento da economia do Estado e um fortalecedor do ecossistema de Micro e Pequenas empresas. Nesta entrevista, José Gomes da Costa, presidente do BNB, aponta os caminhos para o crescimento, analisa o ambiente de oportunidades de investimentos do Ceará e detalha o que o banco vem fazendo para dar suporte ao desenvolvimento sustentável de toda a região.
Qual é a importância do BNB para o crescimento econômico do Nordeste e do Ceará?
O Banco do Nordeste tem importância estratégica para o desenvolvimento de sua área de atuação, que inclui, além do Nordeste, parte de Minas Gerais e Espírito Santo. Desde a sua criação, há 70 anos, financia os setores produtivos da Região com o propósito de reduzir desigualdades interregionais históricas. Seu principal funding, o FNE, formado pelo repasse de 1,8% de impostos federais (IPI e IR), é uma das principais fontes de fomento da economia regional. No último ano, o BNB injetou cerca de 42 bilhões de reais (cerca de 7,9 bilhões de dólares) na região onde atua. São recursos que contemplam desde o microempreendedor até grandes empresas, assim como segmentos estratégicos como o de infraestrutura. No Ceará, posso destacar o microcrédito urbano. As contratações do Crediamigo no estado representam 25% de toda a operação do banco. Nesse ano, já superamos 2 bilhões de reais (cerca de 377 milhões de dólares) em empréstimos aos microempreendedores cearenses com esse Programa, o maior da América Latina. Mas também temos atuação relevante no apoio a pequenos e médios empreendedores e no setor de infraestrutura, por exemplo.
Quais são os pontos fortes do Ceará que determinam a atração de investimentos para o seu território?
Percebemos uma forte demanda do setor de infraestrutura por recursos. Estamos avaliando a possibilidade de firmar parcerias para apoiá-lo cada vez mais e prontamente. Os financiamentos para esse setor no Ceará já somam 1,5 bilhão de reais (cerca de 283 milhões de dólares), em 2022, com recursos do FNE, incluindo projetos de energia renovável, como a eólica. Em relação aos segmentos da atividade econômica, no Ceará comércio e serviços são o carro-chefe, devido à vocação natural do Estado nessa área. Esses setores consomem quase 50% de todo o crédito que disponibilizamos. O Ceará tem também atuação bem interessante no agronegócio, com destaque para a pecuária.
Que avaliação você faz do apoio que o BNB tem dado para os investidores que escolhem o Ceará para expandir seus negócios?
O Ceará possui um grande mercado consumidor e uma economia bastante dinâmica, que cresce acima da média nacional. A atuação do Banco do Nordeste acompanha esse dinamismo. O desenvolvimento que fomentamos ocorre a partir da iniciativa privada, que nos demanda recursos para adquirirem a capacidade de investir de forma sustentável em seus negócios. Nesse sentido, o Ceará, junto com Bahia e Pernambuco, está entre os que mais apoiamos, em função da pujança econômica desses estados.
Segundo dados oficiais, os financiamentos do BNB no Ceará voltados para Micro e Pequenas Empresas (MPEs) superaram 600 milhões de reais (cerca de 113 milhões de dólares), em mais de quatro mil operações de crédito realizadas. Qual é a importância do setor de MPEs para o crescimento da economia cearense?
Ser o banco das micro e pequenas empresas em sua área de atuação é um dos objetivos estratégicos do BNB, em razão da capacidade de geração de emprego e renda desse segmento. O Banco ultrapassou recentemente a marca de 3,5 bilhões de reais (cerca de 660 milhões de dólares) em contratos com MPEs, cabendo ao Ceará, quase 20% desses recursos. Apoiar a micro e pequena empresa é colaborar ativamente com a manutenção e criação de vagas de trabalho. Segundo dados de nosso Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), as operações de crédito do BNB com MPEs geraram ou ajudaram a manter abertas mais de 122 mil vagas de empregos, entre formais e informais, durante o ano de 2021. No Ceará, de acordo com esse estudo, foram 20 mil postos de trabalho gerados ou mantidos pelas micro e pequenas empresas em função dos financiamentos do BNB.
O agronegócio foi um dos setores da economia cujas perspectivas de apoio do BNB estiveram entre as mais otimistas, inclusive com a criação da Superintendência do Agronegócio. Que balanço você faz das ações recentes do banco voltadas para este setor?
Nossa expectativa era a de tornar o processo de crédito mais fluido, bem como a de melhorar a governança, ao concentrarmos em uma só superintendência assuntos relativos ao agronegócio. Acredito ter sido uma ação bem-sucedida. Entre as ações, elencaria o aprimoramento nos processos internos, que resultaram em maior agilidade na concessão de financiamentos, melhoria em produtos, como o Cartão BNB Agro, e a oferta de serviços por meio digital, com o uso de aplicativos.
Quais são as perspectivas do BNB em relação ao apoio financeiro para a indústria do hidrogênio verde?
O BNB é um grande apoiador da inovação e da sustentabilidade. O hidrogênio verde é o combustível do futuro, um futuro já presente, pela capacidade de reduzir as emissões de carbono monocameral e pela sua portabilidade. O Ceará tem as condições ideais para a produção da energia renovável necessária ao processamento do hidrogênio verde a partir do Pecém, as portas brasileiras para o consumidor europeu, carente desse tipo de energia. Há ainda toda uma necessidade de suprimento desse hidrogênio verde no mercado interno, para mudança da matriz energética das indústrias, só para ficar num exemplo. O BNB está pronto para apoiar esses investimentos, com os recursos do FNE e de outras fontes e parcerias que estão sendo estruturadas.
E para o 5G?
A tecnologia 5G para comunicações já está presente em nossa Região, e o BNB tem contribuído para a instalação e aumento da cobertura. Nós possuímos em nossa carteira de clientes empresas que estão levando essa tecnologia à cidade e ao campo. Aqui mesmo no Ceará temos um bom exemplo disso. Nós estimulamos a expansão dessa tecnologia para, entre outras coisas, aumentar produtividade do agronegócio. Damos estímulos ao homem do campo na instalação de equipamentos autônomos para ajudar na produção. Ou seja, nós apoiamos da instalação da rede até o usuário.
O Banco também vem atuando na área de educação com linhas de crédito para escolas e faculdades. Considerando o bom desempenho do Ceará neste aspecto, quais são as expectativas do BNB em relação ao futuro da educação no Ceará?
Há pouco tempo, nos reunimos com empresários e representes de entidades de serviços de educação em todos os estados onde atuamos para apresentar a estratégia BNB +Educação, voltada ao financiamento de instituições de ensino privadas como forma de melhorar a infraestrutura, gestão e capital de giro. Para os próximos 12 meses, estamos destinando 250 milhões de reais (cerca de 47 milhões de dólares) para esses clientes. Então, nossas expectativas, não só para o Ceará, mas para toda a nossa área de atuação, são de um grande fortalecimento dessa atividade. Com educação, o Brasil consegue inovar. E inovação gera melhoria de vida, movimenta a economia e desenvolve qualquer região.
De que forma o BNB vem apoiando o Ceará no desafio de melhorar sua infraestrutura?
O Banco do Nordeste já investiu, de janeiro ao final de setembro, mais de 6 bilhões de reais (cerca de 1,13 bilhão de dólares) em projetos de infraestrutura. Acreditamos que uma região, para se desenvolver, precisa oferecer as condições necessárias para as empresas produzirem e escoarem seus produtos. Posso citar o exemplo do Ceará, que recebeu mais de 1,5 bilhão de reais (cerca de 283 milhões de dólares) nesse período, mas é preciso entender que um grande projeto de infraestrutura tem impacto não só no estado onde está instalado, mas também em estados vizinhos ou mesmo mais distantes. Basta ver o caso da energia. Hoje, o Ceará tem uma importante participação no abastecimento de energia no Nordeste.
O crescimento do Ceará vem sendo projetado e construído sobre a base da sustentabilidade e do cuidado do meio ambiente. Qual é a visão do banco sobre o crescimento sustentável como pilar de atração de investimentos que tenham essa premissa como base?
A preocupação com sustentabilidade, sob os aspectos ambiental, social e de governança (ASG), é uma realidade para o BNB, assim como para qualquer empresa que queira estar funcionando hoje e amanhã. Esses critérios são importantes na avaliação de qualquer projeto. Já está provado que empresas que adotam práticas ASG tomam decisões mais responsáveis, reduzem os riscos e tendem a ter retornos mais sustentáveis a longo prazo. Falando especificamente do BNB, o Banco possui desde 2015 uma Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) que orienta toda sua atuação. Agora em 2022, nós fizemos mais: discutimos a elaboração da nova Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática (PRSAC).
Que caminhos o Ceará deve tomar daqui para frente para conseguir consolidar seu crescimento com a atração de novos investimentos?
O Ceará e toda a região Nordeste, além de parte de Minas Gerais e Espírito Santo, possuem mercado consumidor, vocação empreendedora, grande atuação em agronegócio, indústria consolidada, um setor de serviços forte e um comércio atuante. Esses são alguns exemplos do grande poder que a nossa região para crescer: diversidade de oportunidades. O BNB entende isso e investe, simultaneamente, em vários setores e atividades. Acreditamos que assim podemos estimular um crescimento homogêneo para atender a economia como um todo e, principalmente, gerar emprego e renda.