Cibele Gaspar (Nexxi Assessoria): A força das vantagens competitivas
Cibele Gaspar, mestra em Administração e Gestão Estratégica e diretora da Nexxi Assessoria Financeira
Infraestrutura e logística em constante aperfeiçoamento, posição geográfica privilegiada, políticas de desenvolvimento de longo prazo, segurança institucional, incentivos fiscais e mão de obra qualificada. Esses são os ingredientes que fazem do Ceará um grande atrativo para os investidores. A análise é da diretora da Nexxi Assessoria Financeira, Cibele Gaspar. A Nexxi presta consultoria a investidores em diversas áreas de atuação, facilitando as etapas do processo de investimento. Nesta entrevista, Cibele detalha as vantagens geográficas, estruturais e fiscais do Ceará com a visão de quem entende o que os investidores buscam no contexto econômico atual.
Considerando o cenário econômico global atual, o que os investidores esperam do ambiente de negócios onde vão aplicar seus recursos?
Principalmente, clareza e confiança no local onde eles farão o aporte dos recursos, com regras claras e segurança jurídica. Mas não menos importante é considerar as vantagens competitivas e locacionais. Essa questão tem um peso fundamental na formação dos custos de produção e no retorno dos investimentos.
Até que ponto o Ceará atende a esses requisitos?
Trazendo essas questões para o Ceará, temos o seguinte cenário: um Estado cuja posição geográfica é extremamente vantajosa em relação a outros estados brasileiros e até mesmo em relação aos países vizinhos; é o único Estado que possui uma zona livre alfandegária, o que faz com que certas questões tributárias sejam melhor resolvidas. Outro fator que determina o investimento é a infraestrutura aeroportuária bem como sua qualificação tecnológica, não apenas em termos de estrutura, mas de mão de obra capacitada, o que também é um diferencial. Além disso, precisamos considerar a interação entre o Ceará, as universidades e as políticas públicas. E também em relação aos marcos regulatórios, cuja análise não se limita ao plano estadual, mas, sim, ao Brasil como um todo. O Ceará avançou bastante, mas é essencial que haja um entendimento nacional sobre várias questões. É o caso dos projetos de energia eólica offshore, que depende agora de um marco regulatório nacional para avançarem. O mesmo caso do hidrogênio verde.
O Ceará é conhecido por ter o status de Zona de Processamento de Exportações (ZPE). Conceitualmente, qual a diferença para a Zona Franca de Manaus, por exemplo?
Na Zona Franca de Manaus as empresas produzem localmente, com incentivos fiscais, e vendem seus produtos no mercado interno. Já no caso da ZPE, toda a produção é voltada para a exportação. Os benefícios maiores sempre foram para quem exportava. A partir de 2022, uma mudança na legislação permitiu que as operações nas ZPE destinassem cerca de 20% da produção para o mercado interno, porém sem vantagens tributárias. No âmbito da ZPE, os produtores têm isenção de impostos de exportação e de importação de insumos, uso preferencial das instalações portuárias, além de incentivos fiscais, tanto na esfera estadual quanto municipal.
Qual é a posição hoje do Ceará como Estado que atrai investimentos?
O Ceará está muito bem posicionado. Foi montada uma estrutura que envolve a Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), que atua como sociedade anônima, ao lado da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet). Há uma estratégia bem desenhada para atrair investidores. O sinal forte do sucesso neste campo é o fato de o Ceará estar largando na frente em vários projetos inovadores. O volume de investimentos públicos para atrair recursos é superior à média nacional, considerando o tamanho da economia do Ceará.
Que importância têm para os investidores as políticas públicas de longo prazo, que se tornam políticas de Estado, independentes de governos que exercem o poder?
Isso é uma questão fundamental. Políticas públicas como o Ceará 2050 garantem uma segurança institucional que, aos olhos do investidor, fazem a diferença na hora de optar por um projeto. Se não houver uma continuidade nessas ações de longo prazo, o investidor corre o risco de ele mesmo redefinir suas prioridades de acordo com o governo. Nesse sentido, o Ceará deu um passo importante ao aprovar as diretrizes do Ceará 2050 na Assembleia Legislativa do Estado. Isso significa que o planejamento estratégico para os próximos 30 anos tem força de lei.
Como você avalia a questão dos incentivos fiscais que o Ceará oferece aos investidores?
Os incentivos previstos pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) sofreram uma revisão para atrair mais investimentos. Também vale destacar os incentivos no âmbito da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Incentivos têm um papel essencial para facilitar a vinda dos investidores, mas não podem condicionar a permanência dos investimentos. Não faz sentido manter incentivos permanentes, pois, na prática, é a constatação de que o projeto não para em pé por si só. Incentivos fiscais são complementares a uma série de elementos, como logística, infraestrutura, ambiente de negócios e uma cadeia produtiva azeitada. Mas o primeiro passo de um investidor interessado em aportar recursos é buscar a assessoria de especialistas que conheçam a fundo as particularidades locais para identificar as oportunidades de negócios e facilitar os processos.