Carlile Lavor (Fiocruz): Referência em pesquisa científica

18:39 15 de novembro de 2022 Por Daniel Oiticica

Carlile Lavor, coordenador geral da Fiocruz Ceará

Inaugurado em 2018, o Distrito de Inovação em Saúde, no Eusébio, iniciou suas atividades com a abertura da sede cearense da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O espaço de 73 hectares, cedido pelo Governo do Ceará, vem atraindo instituições do Brasil e do exterior, abrindo caminhos para que o Ceará se torne referência em pesquisa e desenvolvimento tecnológico e industrial na área da saúde. O parque da Fiocruz é o primeiro do Brasil a integrar projetos de inovação tecnológica na produção de medicamentos, insumos e diagnósticos, para atender da saúde básica à medicina de alta complexidade. “Estamos estabelecendo em um mesmo ambiente tecnologia de ponta e capacitação profissional, para atrair investidores que consolidem o Distrito como referência no país”, explica o médico Carlile Lavor, coordenador geral da Fiocruz no Ceará.

Quais são as atividades que a Fiocruz realiza no Distrito de Inovação em Saúde do Ceará?
A Fiocruz está presente em 10 estados da União, além do Distrito Federal. Aqui no Ceará, a Fiocruz definiu seus objetivos no estado em 2007, após um entendimento entre o Governo e as universidades públicas. Foram definidos dois objetivos centrais: fortalecer o Programa de Atenção Primária, que no Brasil é conhecido por Saúde da Família, e desenvolver uma área industrial da Saúde. O Brasil sofre com a dependência das grandes corporações estrangeiras. Basta lembrar que tivemos, por exemplo, que importar máscaras da China, durante a pandemia. Tendo essa necessidade em vista, desenvolvemos aqui no Ceará o Distrito de Inovação. Ou seja, não reunimos apenas as grandes indústrias. É uma área que reúne, indústria, habitação, pesquisa e ensino. Esse modelo já existe nos Estados Unidos e na Europa. E reservamos uma área aqui no município de Eusébio para estabelecer esse convívio entre as grandes indústrias inovadoras, os centros de pesquisa e a mão de obra que vai trabalhar no Distrito. O papel da Fiocruz nesse processo é promover as pesquisas que servem como base para esse desenvolvimento tecnológico. Em 2020, com a pandemia, desenvolvemos em apenas três meses um laboratório de diagnósticos e realizamos mais de 1,4 milhão de exames, importando os equipamentos mais modernos, com tecnologia de ponta. Produzimos kits de exames para o Brasil inteiro, trabalhando ininterruptamente.

E quais são os projetos em andamento?
Temos outro projeto em curso, em parceria com a World Mosquito Program (WMP), uma iniciativa internacional sem fins lucrativos que trabalha para proteger a comunidade global das doenças transmitidas por mosquitos, como dengue, zika, chikungunya e febre amarela. A previsão é de que a partir do final de 2023 iniciemos a liberação de mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais estabelecendo, aos poucos, uma nova população destes mosquitos, todos com Wolbachia. A Wolbachia é uma bactéria presente em cerca de 50% dos insetos, inclusive em alguns mosquitos. No entanto, não é encontrada naturalmente no Aedes aegypti. Quando presente neste mosquito, a Wolbachia impede que os vírus se desenvolvam dentro dele, contribuindo para redução dessas doenças.

E com relação à produção de vacinas, quais são os próximos passos?
Vamos implementar uma unidade da Bio-Manguinhos aqui no Eusébio. Serão produzidos biofármacos a partir de plataformas vegetais, sendo a primeira unidade deste gênero na Fiocruz. Além disso, queremos atrair grandes empresas para desenvolver um setor competitivo de biotecnologia no país.

Todas essas iniciativas prometem transformar o Ceará em referência tecnológica na área da Saúde…
Exatamente. Há um grande interesse do estado do Ceará em desenvolver sua indústria. E esse segmento da Saúde é estratégico, juntamente com a Energia.

Quais são as vantagens que as empresas têm ao se instalarem no Distrito?
A base tecnológica, pesquisadores, mão de obra especializada. Além disso, existe o diferencial da logística, com portos com capacidade para escoar o comércio e aeroportos, o que é essencial. Para se ter uma ideia, quando implantamos a central de exames, recebemos mais de mil currículos de profissionais qualificados, dentre eles 34 doutores e 32 mestres.

Qual é a importância no apoio governamental para o Distrito?
É fundamental. Se compararmos as unidades da Fiocruz no Brasil, a do Ceará foi a que se desenvolveu mais. A começar pela cessão do terreno onde construímos nossa unidade. Além disso, o Ceará levantou recursos a partir de emendas parlamentares, para a construção e a compra de equipamentos.